São Paulo, quarta-feira, 15 de janeiro de 1997
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Falta de estatísticas deixa Mercosul no escuro

AMILCAR GRAMACHO

No mundo dos negócios quem não trabalha com o apoio de informações confiáveis tem grande probabilidade de perder dinheiro.
As informações são necessárias para tornar mais claras e transparentes as variáveis em jogo e possibilitar decisões mais racionais e eficazes por parte dos agentes econômicos.
Essa necessidade tornou-se particularmente importante em algumas áreas de negócios que envolvem a crescente onda de internacionalização da economia.
É o caso do setor agrícola, um dos que se tornaram mais expostos ao processo de abertura comercial, em cujo contexto o Mercosul (Mercado Comum do Sul) parece ser a área mais sensível.
Não apenas porque está fisicamente mais próximo mas, antes de tudo, porque representa hoje a zona onde parece ser mais intenso o processo de integração e de interdependência de mercados.
A verdade é que quando buscamos dados relativos a essa zona, nos deparamos com grandes lacunas, demonstrando que a produção de estatísticas agropecuárias parece não estar acompanhando os movimentos da abertura comercial e de crescente integração do Brasil na comunidade internacional.
A sensação é de que estamos avançando no escuro, ou, na melhor das hipóteses, "a media luz" como dizem nossos vizinhos.
Continuamos a discutir, entre nós, as hipóteses sobre as possibilidades de ultrapassaremos ou não a marca de 80 milhões de t de grãos ou de atingirmos, no ano 2000, os 100 milhões de t, sem nos darmos conta de que tais referências perderam grande parte da sua importância, pois passaram a retratar apenas uma parcela do que acontece no novo e bem mais amplo mercado.
O que está acontecendo, por exemplo, na Argentina, nosso parceiro mais importante, que nos surpreendeu este ano com uma expansão de mais de 50% na safra de trigo, fato ao que se está atribuindo as dificuldades de comercialização da produção brasileira.
Pelo que se sabe ali não se dispõe de uma estrutura de produção de estatísticas agrícolas e não se tem notícia de qualquer esforço para superar esse problema.
Cabe, no nosso entender, ao governo brasileiro, como negociador dos interesses dos produtores e consumidores nacionais, não apenas manter e aprimorar a produção de estatísticas internas -e desde já se reconhece o esforço e o mérito das instituições oficiais brasileiras que há muito tempo vem pesquisando e divulgando essas dados- como, também, exigir o necessário esforço dos nossos parceiros para que produzam e divulguem as suas estatísticas.
Afinal, a inexistência desses números gera problemas não somente para o mercado, mas dificulta, e muito, a condução da política agrícola brasileira.

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