São Paulo, quarta-feira, 15 de janeiro de 1997
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E por falar em traição

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - O presidente da República reagiu fisiologicamente à decisão do PMDB sobre a reeleição. Falou em traição -e falou bem. Da maneira como ele encara a política e a administração, como fatos fisiológicos, houve realmente traição.
O partido tem ministros no governo -o que em princípio é um compromisso administrativo. Os estatutos de qualquer partido colocam a convenção nacional como a fonte soberana da linha partidária.
Se a convenção do PMDB falou soberanamente, o problema não deve ser do presidente, é dos ministros do PMDB. Ou permanecem no governo e abandonam o partido, ou permanecem no partido e abandonam o governo.
Se o presidente considera que determinado ministro do PMDB é indispensável ao governo, no caso de sua renúncia ao ministério poderá mantê-lo independentemente do vínculo partidário. Surge então um problema de foro íntimo não para o presidente, mas para o ministro.
Falar em traição, numa hora dessas, é insistir em lembrar a corda na casa do enforcado. Com a idéia fixa de tornar-se reelegível, FHC comete uma traição a seu juramento constitucional.
Ele foi eleito para um mandato -que eu considero curto- de quatro anos. Aceitou e jurou cumpri-lo. Promover de forma truculenta a própria reeleição é uma violação da ética elementar que serve para ele e para qualquer cidadão. Arranha sua própria honorabilidade pessoal.
Em 1994 (há pouco mais de dois anos), ele votou de acordo com a sua consciência pelo mandato de quatro anos. Ou já teria votado por interesse pessoal, aumentando a rotatividade do cargo que ambicionava? Quem traiu o quê?
É um dever continuar cobrando do presidente menos traição às suas promessas eleitorais, que incluíam o trabalho como um dos dedos de sua mão. A reeleição não cria um único emprego. Já perdemos muito tempo com a vulgaridade do presidente.

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