São Paulo, quinta-feira, 16 de janeiro de 1997
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Filho de Vargas morre no RS como o pai, com tiro no peito

CARLOS ALBERTO DE SOUZA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

O fazendeiro Manuel Antônio Sarmanho Vargas, 79, filho do presidente Getúlio Vargas, foi encontrado morto com um tiro no coração, por volta das 8h de ontem, no escritório da fazenda Cerrito, onde morava, em Itaqui (731 km a oeste de Porto Alegre-RS).
Maneco, como era conhecido, teria cometido suicídio, conforme indícios encontrados pelo delegado de Itaqui, Zeferino Pereira Luz Neto.
Se a hipótese for confirmada, Maneco, último dos cinco filhos de Vargas que ainda vivia, terá repetido o gesto de seu pai, que se matou com um tiro no peito, em agosto de 1954, aos 72 anos, quando exercia a Presidência, há 42 anos.
Segundo Luz Neto, foi achada na casa da fazenda uma carta de despedida que teria sido escrita por Maneco, em tom queixoso. "Pelo escrito, dá para ver que ele estava se sentindo um peso morto na família", disse.
Um trecho da carta -"não pretendo entrar na história, mas simplesmente deixar a história passar" - remete à "Carta Testamento" legada por Vargas antes de se suicidar: "...dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História".
O delegado disse que a caligrafia da carta era de difícil leitura. Maneco teria escrito que deixava aos "gaúchos deste e do outro lado do rio Uruguai (que separa Itaqui da Argentina), um abraço e uma lembrança".
Maneco, que tinha grande semelhança física com seu pai, falou, em várias entrevistas, com naturalidade sobre o suicídio, que considerava um direito que não devia ser buscado por covardia. "Tenho 90% de certeza que foi suicídio. Só não descarto outra possibilidade porque preciso esperar pelo laudo técnico", afirmou o delegado Luz Neto.
O corpo, achado já sem vida por um empregado, foi levado ao hospital de Itaqui. O corpo seria levado ontem para Porto Alegre, onde seria feita a necropsia e um exame para detectar vestígios de pólvora.
O velório e o enterro foram marcados para hoje, em Porto Alegre. Maneco foi prefeito da cidade por oito meses, em 1955. Ele era vice-prefeito e assumiu o cargo temporariamente. Depois disso, se afastou da política.
Era casado com Vera, que ontem não estaria na fazenda, e tinha três filhos. A Agência Folha não conseguiu localizá-los.
Pessoas que estiveram com Maneco nos últimos tempos disseram não ter percebido nele motivo de preocupação.
O delegado disse que a polícia foi avisada da morte pelos empregados da fazenda, que foram ouvidos "informalmente". Segundo ele, foi encontrado junto ao corpo um revólver Colt, calibre 38. O tiro não teria sido ouvido por ninguém. "Feito de perto, o disparo é abafado", disse.

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