São Paulo, quinta-feira, 16 de janeiro de 1997
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A votação a prestação

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - O maior sonho do governo agora é aprovar a emenda da reeleição em plenário usando a saída da votação a prestação.
Trata-se de tentar votar a emenda em primeiro turno neste mês. Em seguida, esperar a eleição dos presidentes da Câmara e do Senado na primeira semana de fevereiro. E só depois concluir a votação da emenda em alguma data posterior.
O termo "votação a prestação" é bem apropriado.
Essas três palavras têm o poder de sintetizar os dois principais conceitos da votação da reeleição.
O primeiro é que a votação seria em parcelas. O governo recebe uma parte de "entrada" e o restante só depois de entregar a mercadoria da troca (apoio a Michel Temer para presidir a Câmara e isenção na disputa do Senado).
A segunda vantagem no termo "votação a prestação" é exprimir o aspecto comercial do entendimento em curso. Afinal, por mais primitivo que seja o processo, não deixa de ser uma troca, um negócio. Ainda que não se conheçam integralmente todas as mercadorias envolvidas na operação.
Ponderado, o líder do PSDB na Câmara, José Aníbal, preferia um nome mais leve para a estratégia. "É a saída vapt-vupt", disse ontem ao sair da comissão especial da reeleição.
Não colou o vapt-vupt de Aníbal.
Também ainda não colou -nem ninguém sabe se vai- a estratégia da votação a prestação. Ocorre que o PMDB blefou e percebeu que pode conseguir alguma coisa.
O apetite dos revoltosos aumentou muito. E o governo poderá se ver obrigado a entregar a mercadoria (presidências da Câmara e do Senado) tendo de aceitar receber o pagamento só algum tempo depois.
Mais ou menos o que acontece quando se compra uma televisão em promoção. Leva-se a TV em troca de um cheque pré-datado para 30 dias. Lojistas desesperados aceitam fazer isso.
Talvez FHC esteja nesse estágio. Terá de fazer política na base da confiança. E torcer para que o pré-datado do PMDB tenha fundos em fevereiro.

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