São Paulo, quinta-feira, 16 de janeiro de 1997
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Educação para a cidadania

ODED GRAJEW

O avanço tecnológico cada vez mais acelerado, combinado com a globalização da economia, está trazendo o efeito perverso do desemprego, o chamado desemprego estrutural que ameaça a paz social de toda a humanidade.
A produção, que necessitava de milhares de pessoas, hoje se efetua com centenas e, em muitos casos, dezenas de trabalhadores. Com a globalização, o que se produzia em vários países hoje é fabricado em poucos lugares, com grande automação, e distribuído pelo mundo inteiro.
O setor de serviços, que, teoricamente, absorveria a mão-de-obra excedente da produção, está seguindo o mesmo caminho, ou seja, incorporando conhecimentos técnicos que produzem prestações de serviços cada vez mais eficientes e automatizadas. O desemprego mundial está crescendo, aumentando a desigualdade social no planeta.
Desesperados, os desempregados são facilmente captados pelos setores que oferecem oportunidade de sobrevivência: terrorismo, crime organizado, tráfico de drogas, guerrilha, movimentos extremados políticos, nacionalistas, étnicos, religiosos e racistas.
O papel da educação é fundamental no enfrentamento do maior desafio atual da humanidade. Nossas escolas estão preparando os jovens para exercer funções que possivelmente não serão mais necessárias, e o número de vagas disponíveis não será suficiente para empregar a próxima geração. As profundas transformações tecnológicas e econômicas terão que nos fazer repensar o papel da educação para os próximos anos.
A nossa sociedade está apoiada em três setores: o mercado, o setor governamental e o setor civil, também chamado de "terceiro setor", composto por fundações e organizações não-governamentais que trabalham em projetos nas áreas cultural, social e ambiental, no atendimento às comunidades e grupos sociais mais carentes e na defesa dos direitos básicos dos homens e dos povos.
Para dar uma idéia do potencial gerador de benefícios sociais e oportunidades de empregos desse setor, só nos EUA atua 1,4 milhão de organizações sem fins lucrativos, com patrimônio de US$ 500 bilhões, que participam com 6% do PIB e são responsáveis por 10,5% do total dos empregos.
Pensando nossa sociedade como formadora de três tipos de capital -econômico, público e social-, devemos abrir novas possibilidades para reconceituar o contrato social, o sentido do trabalho e o tipo de educação que damos aos nossos jovens.
Precisamos criar condições de preparar a próxima geração para assumir responsabilidades na criação de uma sociedade civil responsável e solidária, para exercer plenamente a cidadania e para criar capital social.
Estudos, debates, palestras e literatura sobre cidadania devem ser incorporados aos currículos e atividades regulares. É preciso estimular o envolvimento dos alunos com a comunidade. O trabalho comunitário em organizações sociais deve fazer parte do currículo.
É preocupante o grau de alienação dos nossos jovens. No Brasil, o país campeão mundial da desigualdade social, os filhos de famílias mais privilegiadas acabam se afastando dos problemas da comunidade, isolados no gueto da escola, do transporte e da segurança privados, cercados pelos muros dos condomínios fechados.
O serviço comunitário oferece ao jovem a oportunidade de romper o isolamento, de conhecer e se identificar com o lugar onde vive e com as pessoas que moram na localidade.
Os jovens que prestam serviços comunitários aumentam seu senso de responsabilidade e solidariedade e descobrem novo sentido às suas vidas. Adquirem conhecimentos para trabalhar no terceiro setor e ampliar programas e número de organizações sociais.
Educar para a cidadania significa preparar nossos jovens a participar na construção de uma sociedade mais justa, mais democrática e mais solidária e criar capital social, gerando empregos tão necessários e cada vez mais escassos.

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