São Paulo, domingo, 19 de janeiro de 1997
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Morte violenta rouba 4 anos do brasileiro

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

As mortes violentas fazem com que os brasileiros vivam até quatro anos menos do que poderiam. No caso dos homens do Sudeste, esses óbitos evitáveis por ações preventivas reduzem a expectativa de vida ao nascer de 67 para 63 anos.
As mortes violentas ocorrem mais no Sudeste. A região, onde moram 42% dos brasileiros, registra mais da metade das mortes violentas ocorridas no país.
A concentração de grandes centros urbanos e a extensa malha de rodovias fazem com que os moradores de Estados como São Paulo sejam mais atingidos por homicídios e acidentes de trânsito.
Cada uma dessas causas violentas de morte "rouba" cerca de um ano da esperança de vida.
Achatamento
Somadas a outras violências como afogamentos, quedas acidentais, suicídios e morte por overdose de drogas, resultam no achatamento da expectativa de vida dos paulistas de 69 anos para 65 anos.
Na média nacional, se todas as mortes violentas fossem evitadas, a expectativa de vida dos homens aumentaria três anos, e a das mulheres, pouco menos de um ano.
Para se ter uma idéia do que isso significa, esse eventual aumento de expectativa de vida faria com que o Brasil entrasse no rol dos países com alto Índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas, ultrapassando a Rússia.
O impacto das mortes violentas na expectativa de vida dos brasileiros foi medido por um estudo inédito do demógrafo Celso Simões, da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Avanços neutralizados
Os cálculos do pesquisador do IBGE mostram que grande parte dos avanços obtidos pelo Brasil na redução da mortalidade infantil durante a década passada foram "comidos" pelo aumento das mortes violentas.
Em 1980, esse tipo de óbito era responsável por 10,8% das mortes de homens e 3,5% das de mulheres. Em 1994, as causas violentas já representavam 16,6% e 4,5% das mortes, respectivamente.
Em vidas, isso significou, só em 1994, 29.014 pessoas assassinadas e 32.350 mortas em acidentes de trânsito -mais do que os EUA perderam de soldados no Vietnã em nove anos de conflito.
Para agravar a situação, é provável que haja mais mortes violentas do que as registradas. Em regiões pobres, explica Simões, muitas mortes não são nem sequer notificadas, ou os atestados de óbito são mal preenchidos.
Em comparação com os EUA, por exemplo, os números brasileiros, mesmo subavaliados, são altos. As mortes americanas no trânsito são 44% maiores que as brasileiras, mas a população dos EUA é 70% maior.
Em relação aos assassinatos, a situação é ainda pior: o Brasil tem cerca de 1/3 a mais de homicídios por ano do que os EUA.
Além das perdas que essas mortes representam para as famílias e para a economia do país, há um outro fator que chama a atenção dos demógrafos: essas causas são internacionalmente classificadas como "evitáveis" e, ao contrário do que ocorre no Brasil, estão em queda na maior parte dos países desenvolvidos.

LEIA MAIS sobre expectativa de vida nas págs. 2, 3 e 4

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