São Paulo, domingo, 19 de janeiro de 1997
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Riscos variam conforme a etapa da vida

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

Na perspectiva dos demógrafos, a vida é uma corrida de obstáculos ou -numa metáfora mais atual- um videogame: a cada etapa o indivíduo enfrenta riscos diferentes. Se os supera, passa à fase seguinte.
Assim funcionam as tabelas de esperança de vida. No caso dos brasileiros, o "crédito inicial" em 1990 era de 61 anos para os homens e de 70 anos para as mulheres.
Até completar o primeiro ano de vida, a grande ameaça são as más formações congênitas, doenças típicas da primeira infância e, dependendo de onde se mora, a falta de ligação de esgoto e fornecimento de água tratada.
Superados esses riscos, os meninos chegam aos 5 anos com uma expectativa de mais 60 anos pela frente. As meninas podem esperar mais: 69 anos.
Nesse novo período de suas vidas, os obstáculos que enfrentarão são outros. Pelo menos até os 30 anos, as principais ameaças que têm de ser dribladas pelos brasileiros são as mortes violentas.
É, porém, o período em que o risco de morte é menor. Um garoto de 10 anos de idade, por exemplo, tem, em tese, uma probabilidade de vir a falecer antes de completar 15 anos de apenas 0,6%.
Com a entrada na adolescência, aumenta a exposição desse indivíduo a situações perigosas. São maiores as chances de ele morrer no trânsito ou ser assassinado.
Mesmo assim, os riscos de morte são relativamente baixos: 1% dos 15 aos 20 anos, 1,5% dos 20 aos 25 anos e 1,6% dos 25 aos 30 anos. Para as mulheres, as chances são melhores: 0,3%, 0,5% e 0,6%.
Aos 30 anos, a esperança de vida das mulheres é de mais 45 anos, e a dos homens, mais 38 anos. Em ambos os casos, se somados os anos já vividos, a esperança de vida já é bastante superior àquela que tinham ao nascer.
Por duas razões: num período de 30 anos, o indivíduo já superou um bom número de obstáculos; ao mesmo tempo, a medicina fez novas descobertas ou melhoraram as condições sociais.
Tome-se como exemplo um brasileiro nascido em 1960. Quando nasceu, sua expectativa era viver até 2010, "O Ano em que Faremos Contato", segundo Arthur Clarke.
Em 1960, quando o risco de morte na infância era muito maior, a previsão era de que, se ele chegasse aos 30 anos, viveria mais 34 anos -ou seja, até 2024.
O tempo passou, os tratamentos médicos ficaram mais eficazes e esse indivíduo completou 30 anos em 1990 tendo uma expectativa de viver não mais 34, mas 38 anos.
Assim, em vez de 2010 (sua esperança ao nascer), ele deve chegar a ver o ano de 2028. Em termos cinematográficos, ele saltará do filme de Peter Hyams para uma época posterior à de "Blade Runner", filme de Ridley Scott.
A partir dos 40 anos, as ameaças de morte violenta declinam e as preocupações passam a ser o câncer e as doenças do coração. Hoje, são essas causas que separam os brasileiros da "eternidade".

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