São Paulo, domingo, 19 de janeiro de 1997
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Ultra-som vê muito mais que o sexo do bebê

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O princípio parece simples: um aparelho emite ondas mecânicas de som com intensidades de sons imperceptíveis ao ouvido humano. O som avança pelas barreiras encontradas e retorna em forma de eco. Cristais que funcionam como "ouvidos" captam o som de retorno e o transformam em imagem de vídeo eletronicamente.
O "objeto" pode ser uma rachadura numa estrutura de concreto, o deslocamento de um cardume de sardinhas ou de um submarino. Pode ser o movimento do sangue percorrendo a carótida ou o remexer de um feto em formação.
A técnica se chama ultra-sonografia, uma das muitas formas de diagnóstico por imagem. O aparelho de ultra-som foi desenvolvido na década de 50 e chegou ao Brasil duas décadas depois.
A ultra-sonografia chega ao final dos anos 90 como a mais fantástica "máquina fotográfica" do corpo humano. Seu uso mais conhecido é o diagnóstico médico. No início, era mais indicada nos exames de obstetrícia e ginecologia.
O objetivo era obter informações sobre o aparelho reprodutor feminino e acompanhar o desenvolvimento do feto. Hoje, é empregado para examinar praticamente todas as partes do corpo humano.
Diferentemente de outros métodos de diagnósticos por imagem, a ultra-sonografia não emite radiações e não provoca desconforto no paciente. É também um dos meios de diagnóstico por imagem mais baratos. Se comparado com a ressonância magnética, seu custo é cinco vezes menor.
Certamente por isso, a ultra-sonografia evoluiu mais rapidamente que todas as outras técnicas.
"Essa é a tecnologia que vem apresentando e deve apresentar mais novidades nos próximos anos", diz Sérgio Aron Ajzen, professor do Departamento de Diagnóstico por Imagem da Universidade Federal de São Paulo, secretário-geral da Sociedade Paulista de Radiologia e responsável pelo setor de diagnóstico por imagem do laboratório Biociência Lavoisier.
O mercado é um indicador do sucesso da técnica. As vendas de equipamento vêm crescendo 20% ao ano. Os aparelhos de última geração chegam a custar cerca de R$ 250 mil. Para os pacientes, os exames saem entre R$ 100 e R$ 500.
A evolução da ultra-sonografia fez com que o diagnóstico fosse hoje apenas um dos seus usos, lembra o médico Manoel Orlando da Costa Gonçalves, do laboratório Fleury. Só esse laboratório realiza cerca de 80 exames de ultra-sonografia por dia. No Lavoisier, são cerca de 3.600 por mês.
Além das inúmeras possibilidades de diagnósticos (leia texto nesta página), a ultra-sonografia veio ajudar nas intervenções.
Assim, é usada para guiar retiradas do líquido amniótico nas gestações, na coleta do tecido "vilocorial" ou o sangue do cordão umbilical. Esses materiais coletados são submetidos a exames que detectam com precisão se o feto sofre de alguma má-formação grave ou mesmo da síndrome de Down.
A ultra-sonografia é ainda empregada na obtenção de material para biópsias em órgãos que, analisados, podem indicar presença de tumores de diferentes tipos.
Sérgio Ajzen lembra que a ultrassonografia também auxilia em procedimentos terapêuticos.
É o caso, por exemplo, de um paciente com abscesso na cavidade abdominal ou em outros locais acessíveis a punções. O ultra-som também permite a colocação de drenos em diferentes locais do organismo. Em breve, a técnica vai permitir a liberação de medicamentos sobre tumores no fígado, por exemplo.

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