São Paulo, domingo, 19 de janeiro de 1997
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Perueiro ganha R$ 2.000 livres por mês

JUNIA NOGUEIRA DE SÁ
ESPECIAL PARA A FOLHA

O perueiro típico perdeu o emprego recentemente, apanhou sua indenização e comprou uma Kombi usada ou mesmo zero quilômetro. Está trabalhando, em média, 12 horas por dia e faturando até R$ 2.000 livres por mês.
"É o melhor emprego que já tive na vida", diz Alexandre Ferraz, 34, casado, quatro filhos, ex-torneiro na empresa Metal Leve.
"O que eu ganho na perua, só com diploma universitário", emenda Elivan Amarante Pereira, 35, casado, dois filhos, ex-corretor de imóveis com renda de R$ 1.200 mensais, que está ganhando o dobro como perueiro clandestino.
Ser clandestino exige pouco investimento além da própria perua. Já a legalização requer a abertura de um cadastro de contribuinte municipal (despesas de R$ 200,00 em média), um curso do DTP (R$ 110,00), o seguro contra acidentes no valor de 7.000 Ufirs (cuja parcela mensal fica em torno de R$ 3.500,00), e o pagamento dos impostos municipais (que somam menos de R$ 100,00 mensais).
Mesmo assim é bom negócio, e por essa razão tem atraído tanta gente. Os que chegaram antes, por exemplo, vendem "concessões" de suas linhas por até R$ 15.000. Quem não quer pagar tem que abrir uma linha nova, o que não chega a ser problema ainda.
Laércio Ezequiel dos Santos, presidente da Ata-Sul, a associação dos perueiros da zona sul da cidade, diz que nos últimos meses surgiram 50 novos perueiros por dia. "É uma atividade que está explodindo. Tem gente que precisa trabalhar de um lado, e a população preferindo as peruas do outro. Onde a gente pára, a perua lota."
Até gente como Andréia Cristina Libetanz, 18, casada, um filho, se arrisca numa perua clandestina. Ela faz 12 viagens diárias na zona sul, começando às 5h da manhã. Leva um dos irmãos menores como cobrador.
Optou pela perua clandestina porque não queria mais ser balconista ou garçonete, nem foi aceita no empresa onde o marido é entregador. Ele ganha R$ 1.300 por mês, e ainda tem os descontos de lei. Ela fatura R$ 2.000 líquidos. Tem o colegial completo.
Reunidos em pequenas associações para as quais contribuem com R$ 25,00 por mês, os perueiros estão se organizando depressa. A Ata-Sul, por exemplo, conseguiu de comerciantes da região a doação de duas motos usadas.
Com elas, vai fazer a operação batizada de "o rato caça o gato". Rapazes ficarão encarregados de seguir os fiscais da prefeitura e alertar os perueiros via rádio, livrando-se de multas e apreensões.
"Nós só somos ilegais porque eles querem", diz Santos. "Pela nossa vontade, seríamos legais, pagaríamos todos os impostos, andaríamos na linha. Quem não deixa é a prefeitura."
(JNS)

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