São Paulo, domingo, 19 de janeiro de 1997
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Sem conquista, masculino anuncia arrocho salarial

JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de fracassar na Olimpíada de Atlanta-96, o vôlei masculino brasileiro se prepara para um período de arrocho salarial.
Hoje, times de ponta como Olympikus e Report/Suzano gastam US$ 2 milhões para disputar o Paulista e Superliga. Para a temporada 97/98, os investimentos nas equipes devem baixar consideravelmente -numa redução que pode chegar a mais de 20%.
O fato, segundo os dirigentes e técnicos ouvidos pela Folha, se explica de duas formas.
A primeira justificativa é que os contratos de jogadores de elite, leia-se os olímpicos, foram feitos após a conquista do ouro em Barcelona-92 e na expectativa de um nova medalha -mas veio apenas o quinto lugar em Atlanta-96.
Em segundo lugar viriam as dificuldades financeiras que afetam a maioria das equipes.
"É uma coisa natural. Os salários vão acabar caindo. Eu só acho que não são os salários que vão quebrar os clubes. Quem paga alto hoje é porque tem", diz o técnico Renan dal Zotto, do Chapecó, vice-líder do torneio e que conta com o atacante Carlão.
Segundo João Alberto Zappoli, supervisor do Olympikus, onde atuam Maurício e Tande, o nível salarial está muito alto.
"Se Brasil não voltar a ter bons resultados, é inevitável que os valores caiam."
"A próxima temporada deve ser mais realista. O momento do vôlei hoje é muito diferente dos anos anteriores", diz Ênio Ribeiro, diretor de Marketing da Report, patrocinadora do Suzano, de Giovane.
Segundo a Folha apurou, os maiores salários chegam a US$ 300 mil por temporada. Isso equivale a dois meses do salário do atacante Túlio, do Corinthians.
Para efeito de comparação, na Itália, o atacante Giani, superastro da seleção local, ganha cerca de US$ 400 mil por temporada.
Os clubes
O profissionalismo do Olympikus se constitui numa unanimidade dentro do esporte.
Foi o primeiro a registrar seus jogadores como profissionais de vôlei. Além disso, é apontado como a equipe mais bem estrutura do país.
O Report/Suzano, mesmo líder e bicampeão da Superliga, enfrenta dificuldades econômicas.
Ao assumir o cargo, o novo prefeito de Suzano (35 km a leste de São Paulo) retirou o apoio da prefeitura, que bancava a maior parte das despesas da equipe.
Na outra ponta da tabela, o Vitrage/Ginástica só conseguiu patrocínio em dezembro. A folha salarial da equipe não ultrapassa R$ 25 mil.
Os jogadores
Os ameaçados de ter os rendimentos reduzidos alegam que os salários devem ser proporcionais ao retorno dado às equipes.
"Eu tô dentro do padrão normal. O clube não dá se eu não merecer. Claro que não quero ganhar menos. Mas você tem que acompanhar o mercado", diz Carlão.
"Não é diminuindo o salário dos jogadores que vai resolver o problema. As pessoas não vêem que para R$ 1 investido retorna R$ 17", afirma Giovane.
Tande, por sua vez, diz que os jogadores estão pagando por terem sido campeões olímpicos.
"Todos os esportistas ganham bem. Mas, às vezes, parece que tudo o que a gente conquistou não tem nenhum valor."

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