São Paulo, domingo, 19 de janeiro de 1997
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Lou Duva critica rankings

EDUARDO OHATA
DO COLUNISTA DA FOLHA

Aos 74 anos, o norte-americano Lou Duva é um dos mais ativos técnicos da atualidade.
Nos últimos anos, treinou campeões como Evander Holyfield, Pernell Whitaker, Meldrick Taylor, Vinny Pazienza e Rocky Lockdrige.
No momento, é um dos maiores adeptos da globalização no esporte. Entre os pugilistas estrangeiros que mantém sob contrato estão os exilados cubanos Jose Casamayor e Ramon Garbey e os pesos-pesados Andrew Golota, David Tua e Courage Tshabalala. Em entrevista à Folha, Duva discutiu o processo de internacionalização entre os pesados.
(EO)*
Folha - Os pesos-pesados norte-americanos estão perdendo espaço nos rankings para os pugilistas estrangeiros. Isso acontece porque os EUA não estão mais produzindo pesados de qualidade? O sr. certamente deve concordar que a divisão está bastante fraca, pois há alguns meses ofereceu uma luta pelo título mundial ao jogador de basquete Michael Jordan...
Lou Duva - Ora, aquilo foi apenas um golpe publicitário. Embora admita que, se Michael tivesse aceitado a proposta, teríamos feito a luta em um piscar de olhos. Concordo quando você diz que os EUA não fazem mais bons pesados como antigamente. Isso acontece por causa do descaso com que o circuito amador americano está sendo tratado.
Folha - O sr. pode explicar melhor?
Duva - Sem bons amadores, não há bons profissionais. Quando comparamos o trabalho realizado com os amadores no país e aquele feito nas demais partes do mundo, notamos um grande contraste.
Enquanto mantivermos um programa amador desestruturado e desorganizado, como vem acontecendo nos últimos anos, a situação não tende a melhorar.
Folha - O sr. sempre foi muito crítico com relação às organizações que controlam o boxe. O sr. acredita que o recente influxo de lutadores estrangeiros nos rankings dos pesados é resultado de algum jogo político?
Duva - Os estrangeiros ranqueados são lutadores competentes. Todos têm grandes chances de chegar ao título.
A única crítica que faço com relação aos rankings é que eles são claramente manipulados por um certo promotor (Duva não quis nomear esse promotor, mas provavelmente se refere a Don King, com quem raramente negocia). O fato de muitos lutadores estrangeiros bem posicionados no ranking serem contratados por esse promotor é apenas uma coincidência. Não importa a origem dos pugilistas. O que interessa para ele é controlar boxeadores bem ranqueados.
Folha - Você vê alguma conexão entre as globalizações do boxe peso-pesado e da NBA (liga norte-americana de basquete, que na última temporada teve 21 jogadores estrangeiros inscritos)?
Duva - Essa é uma questão interessante. Na minha opinião, o que acontece com a NBA tem a ver com o ótimo trabalho realizado por David Stern (dirigente da NBA). Ele transformou a liga em algo popular no mundo inteiro. Isso motiva garotos de toda parte a jogar mais basquete. O resultado disso são equipes mais fortes, com muitos de seus jogadores acabando na NBA.
Folha - Há alguns anos, o sr. costumava treinar exclusivamente boxeadores norte-americanos. Hoje, o sr. tem três jovens pesos-pesados sob contrato: o polonês Andrew Golota, o neozelandês David Tua e o sul-africano Courage Tshabalala. O que motivou o sr. a se associar a esses lutadores?
Duva - A idéia de nos associarmos com pesados estrangeiros foi de meu filho, falecido Dan Duva (Dan gerenciava a empresa de lutas do clã Duva, Main Events Inc.). Eu os escolhi porque são pugilistas de talento, mas também visávamos os enormes lucros que teríamos negociando com as televisões estrangeiras. Mesmo não lutando em seus domínios, os estrangeiros continuam sendo grandes atrações em seus países. Dan era um gênio.
Folha - O sr. acredita que os lutadores estrangeiros podem ser tão "durões" quanto os jovens boxeadores do Brooklin ou do Bronx?
Duva - Não acho que você tenha de ser durão, ou ter necessariamente um passado ligado à criminalidade, para ter sucesso no boxe. Veja o caso de Evander Holyfield. Ele é a pessoa mais gentil do mundo, mas, quando sobe ao ringue, é tão determinado quanto qualquer um. Isso não tem nada a ver com ser ou não durão.
Folha - Uma das maiores surpresas do ano passado foi o jeito como Golota dominou o ex-campeão Riddick Bowe em duas lutas. Mas Golota acabou desclassificado nas duas vezes por aplicar golpes baixos. O sr. acha que as faltas resultaram do fato de Golota não saber falar inglês fluentemente, ou ter vindo de um ambiente diferente? Não houve uma eventual dificuldade de comunicação?
Duva - Não houve problema algum de choque cultural ou comunicação. Na primeira luta, Bowe deu vários socos na nuca de Golota. Mas, como o juiz não interrompeu a luta, ninguém se lembra disso. Tudo o que vocês recordam é a pequena falta de Golota.
Folha - O sr. acredita que essa tendência de internacionalização dos rankings dos pesados continuará por muito tempo ?
Duva - É impossível analisar os rankings e dizer com certeza o que vai acontecer daqui há seis meses.

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