São Paulo, domingo, 19 de janeiro de 1997
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Profissionalismo

SÍLVIO LANCELLOTTI

Foram brilhantíssimos os artigos do "capo" Matinas Suzuki Jr. sobre a imperiosidade da modernização do futebol no Brasil. Obviamente concordo na integralidade com o raciocínio e com a conceituação do mestre de Barretos.
Também lembro, todavia, que a globalização desenfreada e intempestiva, sem um mínimo de ordem, causa lá os seus problemas.
Cito o exemplo de dois grandes da Europa, o Barcelona (Espanha) e o Milan (Itália), que pareciam insuplantáveis no começo da temporada e que, agora, amargam crises grotescas para o seu padrão, a sua potência e as suas esperanças.
O Barça e o Milan foram os clubes que mais desfrutaram do "efeito Bosman", o arregaçamento das fronteiras esportivas do continente.
Ambos montaram esquadrões caríssimos, aparentemente monumentais. E, no entanto, o Milan já trocou de treinador, o uruguaio Oscar Tabárez por Arrigo Sacchi. O inglês Bobby Robson, do Barça, pediu demissão na segunda-feira.
Desmoralizado pelos seus próprios jogadores, um exército multinacional de mercenários, Robson chegou a alinhavar um acordo com o Newcastle de sua pátria. Apenas não escapou da Espanha porque o presidente do Barça, José Luiz Nuñez, não topou a humilhação e o obrigou a ficar.
No Milan, Sacchi já começou a desmantelar o castelo fantasiado pelo presidente Sílvio Berlusconi. "Onde sobra dinheiro, falta profissionalismo", disse o treinador para justificar a cessão do lateral Christian Panucci ao Real Madrid: "Talvez tenhamos de começar tudo de novo", ele se lastima.
Claro, com o tempo, vai-se reorganizar a bagunça em que ficou o futebol da Europa depois da abolição dos passes e dos passaportes.
Vai, quando os atletas entenderem que, além de negócio, futebol é paixão e tradição.

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