São Paulo, domingo, 19 de janeiro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Êxito da peça decorre do desejo universal de um amor perfeito

GERALDO DE CARVALHO SILOS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Na introdução à sua edição de "Romeu e Julieta" (escrita por Shakespeare entre 1594 e 1595), J. Hankis escreve: "'Romeu e Julieta' é uma peça sobre o amor jovem. Nenhuma outra transmite tão bem a impetuosa e idealística paixão da juventude. O herói e a heroína não são notáveis, exceto na força dominadora do amor recíproco. Os leitores que amam profundamente podem aqui encontrar a expressão idealizada de seus sentimentos, e aqueles que não amam profundamente são levados a desejar que o fizessem. O desejo universal de um amor romântico perfeito, de união do desejo físico com a entrega não-egoística encontra expressão total nesta peça e dela faz o que Georg Brandes chamou a grande e típica tragédia de amor do mundo".
A citação exprime a razão do êxito universal da peça, "o retrato do amor físico completo em termos de pureza e inocência".
A narrativa é antiga, mas a fonte direta em que Shakespeare se baseou foi o poema "A História Trágica de Romeu e Julieta, Escrita em Italiano por Bandello, e Agora em Inglês por Ar. Br. (Arthur Brook)". Data: 1554.
Masuccio di Salerno aborda o tema em "Il Novellino" (1476) e Luigi da Porto na "Historia Novellamente Ritrovata di Due Nobili Amanti" (1530). Além disso, ele constitui assunto para o poeta italiano Crizia e uma peça escrita por Groto (1578).
"Romeu e Julieta" não tem a intensidade dramática e a variedade de problemas das outras tragédias de Shakespeare; trata-se da tragédia do destino: o dramaturgo, no prólogo, marca os amantes para a morte. E o choque fatal força as duas famílias inimigas a se reconciliarem. Fica claro também que a sociedade responde parcialmente pelo desfecho mortal.
Como que adivinhando o seu destino, Julieta (com apenas 14 anos) fala como um poeta:
"Dai-me o meu Romeu; e quando eu morrer
Pegai-o e cortai-o em estrelas pequeninas
E ele tornará a face do céu tão esplêndida
Que todo o mundo se apaixonará pela morte".
A mais popular das tragédias de Shakespeare, "Romeu e Julieta" tem sido frequentemente filmada (por George Cukor, em 1936, e Franco Zeffirelli, em 1968, como exemplo) e inspirou outras numerosas obras de arte, como a ópera de Gounod (1867), a sinfonia dramática de Berlioz (1834), a fantasia de Tchaikovsky (1869) e o balé de Prokofiev (1938).

Geraldo de Carvalho Sylos é tradutor de "Hamlet" (Editora JB) e ex-embaixador das Nações Unidas no Japão, México e Berna (Suíça).

Texto Anterior: Rock silencia texto original na nova versão para o cinema
Próximo Texto: O avesso do Brasil
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.