São Paulo, domingo, 19 de janeiro de 1997
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Viagem de Diana ofusca família real

The Independent
de Londres

PAUL VALLELY

O que será que a princesa Diana fez na semana passada, abrindo caminho em meio ao lixo fedorento e ruas de terra de uma favela de Luanda? Ninguém pode pôr em dúvida sua capacidade de escolher o momento mais apropriado para suas iniciativas.
Bastou passar os olhos nos jornais para perceber como ela conseguiu eclipsar a visita de Charles a Edimburgo, que se seguiu à notícia de que o Palácio de Saint James estuda uma estratégia para modificar a imagem pública do príncipe.
Diana também conseguiu lançar sombra sobre o anúncio de que a rainha Elizabeth e o duque de Edimburgo vão comemorar suas bodas de ouro ao lado de outros 4.000 casais que sobreviveram a 50 anos de casamento.
O inédito da mais recente proeza de Diana não é o lugar em que ela se deu. É também o tema.
Como poderia a ousada investida de seu ex-marido em solo escocês competir com o encontro de Diana com os representantes de 70 mil pessoas mutiladas pelos 12 milhões de minas terrestres espalhadas no país que é o segundo maior campo minado do mundo?
Embora Diana tenha visto frustrada sua ambição declarada de ser uma "embaixadora" de alguma espécie, está determinada a exercer um papel de alguma seriedade.
Mas tão interessante quanto as razões que levaram a princesa a envolver-se na campanha contra as minas é o processo pelo qual a própria campanha surgiu.
Cinco anos atrás, a idéia de banir as minas terrestres era restrita ao punhado de pessoas que havia trabalhado na retirada das minas no Camboja e, mais tarde, no final dos anos 80, no Afeganistão.
De início isso se deu por acaso. Mais tarde, de maneira deliberada, quando as minas foram instaladas para criar um fluxo de refugiados ou, como na Bósnia, como instrumento de "limpeza étnica".
Estima-se que há 110 milhões de minas ainda não detonadas espalhadas pelo mundo, mutilando mais de 1.900 civis por mês. Entre 5 milhões e 10 milhões de minas novas são produzidas por ano.
Vários governos europeus pediram a proibição da produção, mas o movimento foi bloqueado na Assembléia Geral da ONU, quando o Reino Unido afirmou que suas minas "inteligentes", com mecanismos de autodestruição, não deveriam ser incluídas na categoria das minas comuns.
Um véu de sigilo recobre a indústria de minas terrestres, mas sabe-se que entre seus fabricantes se incluem a Daimler-Benz, na Alemanha, e a Fiat, na Itália. Algumas dessas empresas passam a produzir minas "inteligentes", prevendo que elas continuarão a ser toleradas depois que as minas "burras", usadas no Terceiro Mundo, forem proibidas.

Tradução de Clara Allain

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