São Paulo, domingo, 19 de janeiro de 1997
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Saúde é conquista da revolução cubana

COSETTE ALVES
ESPECIAL PARA A FOLHA

A saúde foi uma das mais importantes conquistas da revolução cubana e os médicos estão entre entre os principais protagonistas da história de Cuba.
Já em 1869, um deles, o doutor Firmin Valdés Domingues (1852-1910), publicou o único exemplar do "El Diablo Cojuelo" com a colaboração de Jose Martí, patriota e o mais famoso e querido poeta cubano. Ambos foram presos durante seis meses acusados de traição pelos espanhóis.
Em 1871, Valdés foi preso novamente e condenado a seis anos de prisão. O julgamento resultou no fuzilamento de oito estudantes de medicina em 27 de novembro de 1871, acusados de subversão.
Em 1872, Valdés recebeu indulto e reuniu-se com Jose Martí em Madri. Voltou a Cuba em 1895. Recebeu a graduação de coronel do Exército Libertador.
Era médico também o carismático Ernesto "Che" Guevara, que, ao lado de Fidel Castro, fez a Revolução de Cuba e cujo desaparecimento completa 30 anos em 1997.
Para nós, brasileiros, com tantos problemas na área da saúde pública e carência de recursos para investimentos em pesquisa, é útil observar que, apesar das dificuldades que Cuba atravessa por conta do embargo econômico, continua investindo na vida de seu povo.
A política cubana apoiou e apóia enfaticamente a pesquisa médica e científica.
O médico Carlos Antonio Duarte Cano, chefe de um grupo de 24 pesquisadores do Centro de Engenharia Genética e Biotecnologia e do Instituto Finlay, serviu recentemente de cobaia para testar uma vacina contra a Aids.
O resultado é que seu organismo produziu anticorpos. Com isso, os testes de Cuba -único país do Terceiro Mundo a desenvolver vacina contra a síndrome- entram na segunda fase de produção do preparado. A terceira será o teste em população mais ampla.
Muitos cientistas não acreditam que a vacina contra a Aids possa ser uma solução viável, dada a alta capacidade de mudança do vírus.
Estive em Cuba por 12 dias, onde entrevistei a doutora Conception Campa Huego, conhecida como Conchita Fernandes.
Graduada em bioquímica farmacêutica, ela foi eleita, em 1991, membro do Comitê Central e do Burô Político -a máxima instância de direção política do partido. Em 1993, ingressou no Conselho de Estado. É diretora-presidente do Instituto Finlay.
Conversei também com o doutor Manuel de Jesús Limonta Vidal, cientista e médico do Centro de Engenharia Genética e Biotecnologia de Havana.
Sociedade solidária
As palavras de Fernandes e de Limonta retratam Cuba como uma sociedade cheia de entusiasmo, espírito cívico e sentimento de solidariedade -num momento de grave crise econômica.
As pessoas e paisagens de Cuba guardam grande semelhança com as do Brasil, o que realça um contraste estranho e assustador entre o espírito cívico e entusiasmo dos cubanos e a aparente apatia e individualismo dos brasileiros.
Por outro lado, em Cuba sente-se falta e saudades das liberdades democráticas de que usufruímos.
Trouxe da viagem a Cuba uma pergunta. Será que só existem essas duas escolhas: uma sociedade livre e democrática, mas indiferente e individualista, ou uma sociedade solidária, preocupada com a coisa pública, mas carente de liberdade?
Trouxe também da viagem a Cuba uma resposta definitiva: não basta criar a CPMF para resolver o problema da saúde no Brasil.
Leia a seguir trechos de entrevistas com Fernandes e Limonta.

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