São Paulo, segunda-feira, 20 de janeiro de 1997
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Ex-petista teme o inchaço do partido

"PSDB corre o mesmo risco do PMDB"

CLAUDIA VARELLA
DA AGÊNCIA FOLHA, NO ABCD

Ex-prefeito pelo PT (1989-92) e advogado do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC por 27 anos, o prefeito de São Bernardo (Grande São Paulo), Maurício Soares (PSDB), 57, disse que seu partido corre risco iminente de virar um PMDB. "O inchaço, o crescimento sem critério são práticas que devem ser vigiadas", afirmou.
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Agência Folha - Por que o sr. abandonou o PT?
Maurício Soares - Problemas ideológicos. O partido não abandonou as teses socialistas superadas, principalmente do socialismo mais radical, que acabaram me indispondo com uma parcela do partido. Eu tive de sair.
Agência Folha - Por que o sr. escolheu o PSDB?
Soares - Fora do PT, o PSDB é o partido que, pelo menos ideologicamente, coaduna com minha posição. A social-democracia é um regime que busca o bem-estar do povo com liberdade, aliando o desenvolvimento e democracia, ideais que defendo.
Agência Folha - Como o sr. se sente convivendo, no PSDB, com ex-integrantes da Arena e PDS?
Soares - Problema de convivência, não tenho. Só acho que o partido deve ter mais critérios para se tornar uma verdadeira alternativa para a social-democracia.
Agência Folha - Como o sr. vê a evolução do PSDB?
Soares - O PSDB nasceu de um inconformismo com as posições do PMDB que virou um partido sem definição, comprometido com o fisiologismo. O pessoal que rompeu com tudo isso tentou fazer um partido um pouco mais sério, mais comprometido com a nação.
Agência Folha - Como o sr. se autodefine politicamente?
Soares - Fui educado na esquerda durante muitos anos da mocidade contra a ditadura e nos movimentos sociais. A minha formação é toda ao lado dos oprimidos, mesmo porque também fui oprimido, vim de família muito pobre. Hoje diria que sou um homem de esquerda voltado um pouco para o centro, mais preocupado com justiça social e democracia.
Agência Folha - Como o sr. define politicamente o PSDB?
Soares - O PSDB corre o mesmo risco do PMDB, pois um partido que cresce de maneira desordenada, pouco orientada pelo estatuto, agrega gente que pode comprometer. As alianças em nível nacional que o partido faz para chegar ao poder não me agradam. Acho que nos aliamos ao setor mais retrógrado da política brasileira, representada pelo PFL. Isso desfigura o PSDB.
Agência Folha - O PSDB corre o risco de virar um novo PMDB?
Soares - Corre um risco iminente. O inchaço, o crescimento sem critério são práticas que devem ser vigiadas. Precisamos saber com quem nos aliamos para mantermos a postura de um partido de centro-esquerda.

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