São Paulo, segunda-feira, 20 de janeiro de 1997
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Escola independente revoluciona ensino

GILBERTO DIMENSTEIN
DE NOVA YORK

Sem dinheiro para pagar mensalidades e desconfiados da qualidade do ensino oficial, os americanos patrocinam uma das mais importantes experiências atuais de educação: as escolas independentes.
Este ano, pelo menos 100 mil alunos, espalhados em 19 Estados, devem frequentar as escolas independentes. Lançado pela primeira vez em 1991, o projeto reúne os ingredientes das escolas públicas e privadas.
As novas escolas são gratuitas, proibidas de recusar alunos, mas, ao mesmo tempo, geridas com total autonomia pelos pais ou pela comunidade.
Contratam e demitem quem quiserem, estabelecem currículos, prioridades. Se, por acaso, quiserem dar aulas apenas em dois dias da semana, nada pode impedi-las.
Uma tribo de índios e um grupo de escoteiros, por exemplo, ganharam licença para ter uma "independente".
Na prática, as escolas públicas vêem-se obrigadas a competir e melhorar seu desempenho. Ao mesmo tempo, os estabelecimentos privados também são desafiados e surgem mais chances de ensino gratuito com seu mesmo nível de independência e sem a lentidão da burocracia pública.
O ensino de 1º e 2º graus nos EUA envolvem US$ 300 bilhões, quase a metade de tudo o que o Brasil produz em bens e serviços. É alvo de permanentes críticas sobre sua qualidade; testes internacionais mostram que os alunos americanos perdem, em larga distância, de colegas de outros países mais pobres da Ásia ou Europa.
Ao ganhar a licença para montar a escola, os criadores assumem um compromisso (charter). Vão ter de provar que, depois de determinado período, em geral cinco anos, os alunos conseguiram atingir um padrão mínimo de qualidade. Daí as escolas terem o apelido em inglês de "charter school".
Caso não cumpram o estabelecido, perdem a licença e a escola é dissolvida. O poder público interrompe o envio de dinheiro.
Por ser experiência recente, até agora nenhuma delas passou pelo teste decisivo. O momento é acompanhado com ansiedade.
As escolas independentes são centro de um intenso debate acadêmico, vistas com desconfiança pela burocracia oficial e sindicatos. Dizem que elas vão atender apenas alunos mais abastados, já que apenas as comunidades organizadas ou mais educadas se disporiam a criá-las.
O elitismo não se confirmou até agora: 55% dos estudantes das escolas independentes são pobres.
"É uma revolução em andamento", diz a educadora Naomi Weiss, ligada à Faculdade de Pedagogia da Universidade de Columbia, em Nova York.

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