São Paulo, segunda-feira, 20 de janeiro de 1997
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Eta casuísmo

VALDO CRUZ

Brasília - Final de campeonato de várzea. O time favorito, Rolo Compressor Futebol Clube, mandou fazer as faixas de campeão antes mesmo do jogo decisivo. O time tinha um camisa 10 genial, o Mulatinho. Mas tinha também um perna-de-pau, um certo Trator. Seu estilo era dar canelada.
O adversário, Mombaça Futebol Clube, prometia surpresas. Não tinha nenhum grande craque, mas seus jogadores eram mais experientes.
Antes de começar a partida, o juiz chamou os capitães dos dois times: "Cada clube joga com 11 jogadores, em dois tempos de 45 minutos, e não vale gol de mão", combinou o árbitro.
O apito soa, e o Rolo Compressor Futebol Clube entra em desespero. A turma do Mombaça arrasa e termina o primeiro tempo vencendo por 3 a 0.
Durante o intervalo, o beque Trator, dublê de jogador e cartola, chama o juiz para uma conversa. "As regras vão mudar para o segundo tempo." O juiz, um tal de Luiz Pefelino, faz sinal de positivo.
Começa o segundo tempo. Lá pelos 15 minutos, os jogadores do Mombaça estranham a quantidade de adversários em campo. Acabam descobrindo que o Rolo Compressor tinha voltado para a etapa final com 13 homens.
Tentaram reclamar com o juiz, mas não adiantou. Aos 45 minutos, o jogo já estava empatado. O Mombaça pede o fim da partida. E nada.
Aos 58 minutos, Trator parte para o ataque e, numa confusão na pequena área, marca um gol de mão. Logo depois o juiz apitava o fim do jogo.
É mais ou menos isso que os aliados de Fernando Henrique Cardoso planejam fazer caso percebam que a reeleição será derrotada na Câmara.
Mesmo depois do início do jogo -a comissão especial já aprovou a emenda-, o time governista ameaça partir para um plebiscito.
A consulta popular sempre foi o melhor caminho nesse caso. Mas o governo a desprezou por considerar fácil ganhar no Congresso.
Agora, ameaça com a voz rouca das ruas. Pode ser tarde demais.

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