São Paulo, segunda-feira, 20 de janeiro de 1997
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São Sebastião

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Liguei o computador e tinha um assunto: comparar a publicidade que o governo está despejando em cima do povo com a propaganda dos governos militares. Está mesmo muito parecido, na forma e no conteúdo. Fica para amanhã.
Hoje é dia de São Sebastião, padroeiro da cidade que dá título e pretexto para a coluna. O carioca merece a fama de folgado. Comemora a fundação de sua cidade duas vezes ao ano. A 1º de março festeja a entrada das caravelas de Estácio de Sá na Guanabara, com os portugueses fixando-se ali perto do Pão de Açúcar. Mas a cidade (ou o que havia de cidade) estava ocupada pelos franceses que contavam com a ajuda dos tamoios - eles sabiam o que estavam fazendo.
Quase dois anos depois, a 20 de janeiro de 1567, dia de São Sebastião, é travada a batalha final. Dura poucas horas e custa menos de 20 mortos. Ferido no rosto por uma flecha tamoia, Estácio de Sá morre selando o destino da França Antártica que não houve; houve o Brasil do guarani e do guaraná, surgiu a feijoada e mais tarde o parati -para ficar na letra daquela marchinha do carioca Lamartine Babo.
Esse São Sebastião tem devotos, aqui e alhures. Aqui porque, entre outras coisas, nosso nome completo no registro civil é Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Ou, como querem os mais eruditos, somos a Sebastianópolis -e quando penso nisso ameaço me tornar niteroiense.
De uns tempos para cá, Sebastião é também um dos padroeiros do povo gay -já me explicaram isso diversas vezes, mas eu achei cascata e esqueci. No fundo, foi um centurião romano, servia ao imperador, mas se converteu ao cristianismo e pagou com a vida o preço de sua fé. Inicialmente foi flechado, depois morto a pauladas. No local de seu sacrifício ergueu-se uma das sete basílicas principais de Roma. Mas é no Rio de Janeiro que nos dá diariamente a dica de um destino.

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