São Paulo, segunda-feira, 20 de janeiro de 1997
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"Progresso" afastou os nativos do mar

KATJA GUSSMANN
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Há 20 anos, na ilha do Mel moravam só nativos, não havia eletricidade e os pouquíssimos turistas dormiam em casas de pescadores ou ficavam um dia.
Guilherme Russi frequentava a ilha nessa época. Há dez anos, ele abriu uma pousada. Ela era pequena e única. Além dela, havia um hotel na praia da Fortaleza.
Mas a ilha muito mudou desde o verão de 1989, quando a luz elétrica chegou e fez todos acordarem dos tempos antigos.
Hoje há telefone, televisão, antenas parabólicas, geladeiras. Os nativos já não trabalham mais como pescadores, mas nos restaurantes e nas pousadas.
Outro fator que transforma a vida dos moradores é a erosão, que está destruindo partes da ilha.
Marilene, mulher de Russi, aponta para o mar e diz: "Lá ficou a nossa primeira pousada". Ela foi coberta pelo mar, que engoliu em 12 anos mais de 70 metros de terra.
Muitos moradores lutam contra a força das ondas. Eles mudam suas casas de um lugar para outro à espera de que a erosão acabe.
Mas, sem as obras que devem ser feitas para salvar a ilha da divisão em duas, não há fim para a erosão. A Associação dos Comerciantes da Ilha do Mel trabalha para a preservação e recuperação do local.
Em reuniões com o governo do Paraná, discutem prováveis soluções. Uma foi proposta por Russi, presidente da associação dos comerciantes, e sugere uma obra imensa: tirar areia do fundo do mar em frente à praia do Farol.
Ali há um canal natural entre a ilha do Mel e a das Palmas, que foi desativado há 12 anos, com a construção de um canal entre o continente e a ilha.
Ele foi feito para tornar possível a passagem de navios maiores. Mas, segundo teoria dos moradores, é o depósito de areia que provoca até hoje a erosão. Isso porque o canal antigo perdeu cerca de quatro metros de profundidade, e o mar procura o seu espaço perdido, dividindo a ilha em duas partes.
Os moradores contam com a ajuda do governo, que mostra interesse no desenvolvimento do turismo e agora está realizando uma obra que facilitará o embarque dos turistas: um trapiche.
"Embora essa obra transforme a cara da ilha, temos de aceitá-la, pois, em troca, queremos que o governo consiga com o Banco Mundial financiamento para as obras de contenção da erosão."
Educação turística
Mas não é só a erosão que esquenta a cabeça dos moradores da ilha do Mel.
Eles também trabalham para manter mata e praias limpas. O lixo é coletado regularmente e separado para reciclagem.
A preocupação ambiental é grande, e um dos moradores fala: "Como nós não podemos voltar no tempo, agora temos de fazer de tudo para não deixar o turismo estragar a natureza".
A associação quer limitar o número de pousadas a 50. A ilha não deve receber mais que 5.000 turistas no verão, número que já atinge na alta estação.
Cada pessoa que passa férias ali não deve esquecer que ela mesma pode ajudar a preservar a ilha do Mel e a conservar a beleza natural que ainda tem.

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