São Paulo, quarta-feira, 22 de janeiro de 1997
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MST invade sede do Incra em São Paulo

LUIS HENRIQUE AMARAL
DA REPORTAGEM LOCAL

Cerca de 350 integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) invadiram ontem a superintendência do Incra em São Paulo, em Higienópolis, bairro de classe média alta na região central da capital paulista.
Os sem terra exigem a liberação por parte do governo federal de R$ 4,9 milhões para a compra de uma fábrica de fécula (amido de mandioca) que seria gerenciada pela cooperativa do MST da região do Pontal do Paranapanema (oeste de São Paulo).
A invasão também tem objetivos políticos. "Protestamos contra a privatização da Vale do Rio Doce e a reeleição do Fernando Henrique Cardoso", disse Gilmar Mauro, da coordenação nacional do MST.
A invasão aconteceu às 9h30, quando oito ônibus contratados pelo MST estacionaram em frente à sede do Incra. Não houve reação por parte dos seguranças. Não foram feitos reféns.
O superintendente do Incra, Jonas Villas Boas, vai solicitar hoje à Justiça a reintegração de posse do prédio.
À frente do grupo, além de Gilmar Mauro, estava José Rainha Jr., líder da entidade em São Paulo.
Segundo os sem terra, o dinheiro para a fábrica de fécula já foi liberada pelo governo federal, mas o repasse teria sido suspenso.
"O Raul Jungmann (Política Fundiária) condiciona a liberação de verbas para os assentados ao fim das ocupações. É um absurdo", disse José Rainha.
Vandré
Segundo Rainha, o MST só vai liberar o prédio depois que o governo assinar um novo acordo liberando a verba para a fábrica.
O líder do MST garantiu que vai resistir caso a polícia tente desocupar o prédio. "Se a coisa engrossar, trazemos 1.500 pessoas lá do Pontal. Muita gente vai ficar machucada se houver invasão", disse.
"O nosso povo já está de orelha quente de tanto tiro lá no Pontal. Eu não sei o que pode acontecer se vier polícia", afirmou Mauro.
No final da tarde, chegou a informação de que o ministro Jungmann disse que os sem terra mereciam "cadeia".
"Acho que o ministro está confundindo a gente com os pistoleiros do Pará ou do Pontal, eles é que precisam de cadeia", disse Rainha.
Os sem terra tomaram todos os oito andares do prédio. Os integrantes do grupo ficaram deitados pelos corredores ou em reuniões.
Outra parte dos sem terra passou o dia cantando e tocando violão no jardim em frente ao prédio. As músicas mais tocadas eram antigos sucessos sertanejos e composições de Geraldo Vandré.
Um carro da Polícia Militar passou o dia em frente ao prédio, mas os policiais apenas observaram os integrantes do MST.

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