São Paulo, quarta-feira, 22 de janeiro de 1997
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Vale só deve ser vendida no 2º semestre

SÔNIA MOSSRI

SÔNIA MOSSRI; VIVALDO DE SOUSA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Votação da emenda da reeleição e descoberta de novas jazidas atrasam cronograma fixado pelo governo

O governo já definiu que a privatização da Companhia Vale do Rio Doce somente começará a partir de julho.
Segundo a Folha apurou, as articulações em torno da emenda da reeleição e as dificuldades para a fixação do preço mínimo da estatal após a descoberta de novas jazidas de ouro e cobre são os motivos alegados para o atraso no cronograma de privatização.
A estratégia do governo prevê evitar medidas que criem polêmicas no Congresso enquanto a reeleição estiver em tramitação. Nessa lista, pode entrar também a solução para o banco Bamerindus.
Pelo que o governo anunciou no ano passado, o controle acionário da Vale deveria ser vendido em fevereiro. Haveria ainda outros dois leilões das ações restantes.
É a principal privatização marcada para o ano, com arrecadação prevista em R$ 5 bilhões. Trata-se, porém, de assunto polêmico no Congresso. Sofre oposição do presidente da Casa, o senador José Sarney (PMDB-AP).
Área econômica
A possibilidade de adiamento do leilão da Vale já é mencionada pela área econômica do governo.
O ministro Antonio Kandir (Planejamento) disse que o leilão da estatal poderá ficar para abril se aumentar o número de empresas interessadas na compra da estatal.
Kandir disse, porém, que ainda não há motivos para alterar o cronograma da venda da empresa.
Ou seja, o edital deve ser aprovado no próximo dia 29 em reunião do CND (Conselho Nacional de Desestatização).
Segundo Kandir, será muito difícil o governo ter novas informações que possam alterar o preço mínimo da empresa até o final do ano. Mesmo assim, o governo terá participação em descobertas após a privatização.
Para ele, as novas descobertas reforçam a necessidade de a empresa ser vendida porque serão necessários novos investimentos para explorar essas descobertas. "Isso será positivo para o país", afirmou.
O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, José Roberto Mendonça de Barros, disse ontem que as descobertas de novas jazidas de ouro e cobre ainda não são motivos para mudar o cronograma.
Discrição
Por orientação do presidente Fernando Henrique, os ministros Pedro Malan (Fazenda) e Antonio Kandir vão adotar a discrição durante o período de votação da emenda da reeleição.
A determinação do presidente é para os dois ministros adotarem um tom mais reservado em relação à imprensa.
Ambos devem evitar discursos sobre a necessidade da reeleição para manter a estabilidade da inflação obtida por intermédio do Plano Real.
A percepção do Planalto é que a propaganda do PFL e PSDB a favor da reeleição já é suficiente. A participação ostensiva dos dois ministros poderia trazer desgaste ao próprio FHC.
Comissão
A Câmara dos Deputados criou ontem uma comissão de parlamentares para examinar o processo de privatização da Vale do Rio Doce.
Pedida pelo deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), a comissão irá levantar dados sobre a empresa e discutir o assunto com entidades representativas da sociedade civil.
Ontem mesmo, parlamentares da comissão começaram a fazer contatos com entidades ligados ao setor no Rio de Janeiro.
Uma das prioridades da comissão será reunir informações sobre as novas minas de ouro encontradas pela Vale no Pará.
O resultado dos trabalhos da comissão será levado ao plenário da Câmara e enviado ao presidente Fernando Henrique Cardoso.
"Nós queremos discutir a privatização da Vale. O próprio governo não tem dados concretos sobre essas minas", disse o deputado Sérgio Carneiro (PDT-BA).

(Colaborou Vivaldo de Sousa, da Sucursal de Brasília)

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