São Paulo, quarta-feira, 22 de janeiro de 1997
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CPI agora investiga operações do Beron

FERNANDO GODINHO

FERNANDO GODINHO; SILVANA QUAGLIO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Comissão suspeita que recursos enviados ao exterior podem ser lucros com títulos usados para pagar precatórios

SILVANA QUAGLIO
A CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Senado que apura irregularidades na emissão de títulos públicos para o pagamento de dívidas judiciais (precatórios) quer investigar transferências de recursos para o exterior realizadas pela agência paulistana do Beron (Banco de Rondônia).
Duas dessas operações somam R$ 4,856 milhões e favoreceram o Banco del Paraná (R$ 972 mil) e o Corfan Banco S/A Inversion Y Fomento (R$ 3,884 milhões).
O Beron está sob Raet (Regime de Administração Especial Temporária) do Banco Central -o mesmo modelo de intervenção adotado no Banespa- desde o primeiro semestre de 1995.
As duas operações já estão sendo investigadas pelo BC, conforme documentação obtida pela Folha.
A CPI suspeita que os recursos transferidos para o exterior pelo Beron podem ser o lucro de operações com títulos emitidos para o pagamento de precatórios.
Segundo o que já foi apurado pela CPI, bancos que operam com esses títulos podem estar usando corretoras "fantasmas" para manipular a cotação desses papéis.
As corretoras compram os papéis com uma alta taxa de desconto (ou deságio), repassando-os aos bancos por um preço maior.
O lucro apurado nessas operações seria desviado para contas particulares dos executivos dos bancos que são coniventes com as corretoras "fantasmas".
A CPI considera a hipótese de que o lucro produzido pelas corretoras "fantasmas" estaria sendo enviado para o exterior, configurando remessa ilegal de recursos.
O Beron está despertando o interesse da CPI devido a um processo trabalhista movido pelo ex-gerente da agência paulistana João Maury Harger Filho contra o banco. Harger Filho pediu demissão do Beron e foi à Justiça cobrar o pagamento de horas extras.
Segundo documentos do Beron, Harger Filho foi destituído da gerência da agência depois que uma auditoria do BC constatou "desvirtuamento da função bancária".
Diz a auditoria: "as distribuidoras Negocial, Split e Invest-Sul utilizaram-se da agência paulista do Beron, com a finalidade de transferir recursos obtidos em negociações nos mercados financeiros e de capitais para diversas pessoas físicas e jurídicas não financeiras, inclusive estrangeiras".
Hoje, vai depor na CPI do Senado o chefe do Departamento da Dívida Pública do BC, Jairo da Cruz Ferreira, responsável pela análise desses pedidos.

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