São Paulo, quarta-feira, 22 de janeiro de 1997
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O poder privatizado

JANIO DE FREITAS

Variante de restrições que a ditadura militar impunha a pretexto de segurança nacional, o BNDES estabelece agora a proibição de visitas, a menos que autorizadas por seus diretores, a qualquer das instalações da Companhia Vale do Rio Doce, com o propósito de impedir a coleta de informações e observações locais sobre a empresa.
A arbitrariedade decorre da informação, já antiga mas retomada pelo "O Estado de S.Paulo" com nova e agigantada dimensão, de que pesquisas em Carajás vêm indicando mais jazidas de alto potencial econômico -o que alteraria o valor e o esquema de privatização engatilhados por diretores do BNDES.
O BNDES não tem poder, de nenhum tipo ou instância, para intervir nas decisões administrativas da Vale, entre elas as que respeitem ao acesso às tantas instalações da companhia pelo país afora. A incumbência de conduzir o processo de privatização não vai além das já polêmicas medidas para avaliação e venda das estatais ditas privatizáveis.
Só onde a lisura está sujeita a questionamentos os governos e seus representantes têm necessidade de esconder e de produzir inverdades. O primeiro desses propósitos não teria melhor exemplo do que a prepotência da proibição de visitas. O outro propósito recebe a gentileza de um exemplo também oferecido pelo BNDES, e na pessoa mesma do seu presidente, Luís Carlos Mendonça de Barros. E, não por acaso, tendo como objeto a mesma Vale, razão de tantas negociações ultimamente.
Em debate na semana passada, no qual representou os interesses ditos governamentais na venda da Vale, Mendonça de Barros fez uso do argumento de que, sem o BNDES, a estatal Vale do Rio Doce nem teria podido se suster. Argumento demolidor, não fosse pelo fato de que a Vale não poderia valer-se de amparo, ajuda ou socorro do BNDES até por impedimento legal.
Mas a privatização à brasileira não é mais do que um vale-tudo.
Bom acaso
Muito significativo que a primeira das novas carteiras do trabalho, entregue pelo próprio ministro-geógrafo Paulo Paiva, coubesse a uma jovem desempregada. O nome da carteira é que deixa de ser significativo.
Questão de fé
Há pessoas que acreditam, mesmo, na discordância entre o senador Sarney e a governadora Roseana Sarney, a respeito da posição que um e outra tenham a respeito da reeleição e, agora, também do próprio Fernando Henrique Cardoso.

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