São Paulo, quarta-feira, 22 de janeiro de 1997
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Em vigília, manifestantes dizem que lei protege réu

Advogada diz que acusação teve de ceder duas vezes

WILSON TOSTA
DA SUCURSAL DO RIO

A coordenadora do Centro Brasileiro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, advogada Cristina Leonardo, comemorou ontem a decisão do juiz José Geraldo Antônio -que manteve para hoje o início do julgamento do caso Daniella Perez.
Ela reclamou, no entanto, das circunstâncias em que a decisão foi tomada.
"A que ponto chegamos: pela segunda vez, a acusação teve de ceder para que haja julgamento", afirmou. "A mãe da vítima (a novelista Glória Perez) já teve de desistir de depor como testemunha e, agora, a acusação precisa abrir mão de uma prova. É ou não é ficar na mão do advogado do réu?", disse.
Cristina afirmou que pretende iniciar uma campanha nacional por mudanças no Código de Processo Penal (que regulamenta a tramitação dos processos criminais) e na Lei de Execuções Penais (que trata do cumprimento das sentenças).
"O outro advogado (Paulo Ramalho, defensor de Pádua), como estratégia de defesa, a uma semana do julgamento avisa que não vai", afirmou. "No processo de Vigário Geral (referente à chacina de 21 pessoas por PMs, em 1993), são 45 advogados. Imagine se cada um deles fizer o mesmo."
Vítimas
Teresa Moreira, mãe de Carlos Gustavo Moreira, o Grelha, que usa muletas por causa de um tiro que levou em 1986, num incidente envolvendo o bicheiro Valdemir Paes Garcia, o Maninho, esteve no fórum com Cristina Leonardo, para entregar ao juiz um manifesto contra o possível adiamento.
Revoltada com fotografias divulgadas em jornais de ontem, em que Maninho aparecia livre, rindo, ao lado da dançarina Carla Perez, do grupo É o Tchan, Teresa criticou a demora no novo julgamento do acusado -segundo ela, já adiado quatro vezes.
"É desolador", disse. "Ele continua solto e meu filho ficou preso, sem andar."
Como vêm fazendo desde a terça-feira da semana passada, cerca de 20 pessoas, parentes e amigos de vítimas da violência, estiveram ontem junto de uma das entradas do fórum, pedindo a condenação dos réus e o fim da impunidade.
Uma das manifestantes era Vera Lúcia Flores Leite, mãe de Cristiane Leite de Souza, desaparecida na chacina de Acari, em julho de 1990, em que 11 jovens foram mortos e tiveram seus corpos ocultados.
Ela fez um apelo por informações sobre a localização dos restos mortais da garota.
"Não quero saber quem matou", disse. "Só quero enterrar minha filha."
Até um representante da Anistia Internacional, o italiano Ricardo Zucconi, esteve na porta do fórum. Ele ressaltou, porém, que não é objetivo da organização intervir no julgamento.

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