São Paulo, quarta-feira, 22 de janeiro de 1997
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A AGONIA DA REELEIÇÃO

Para a frustração de todos os que esperavam para hoje o fim do impasse em torno do direito à reeleição para o Executivo, as lideranças governistas decidiram transferir para a próxima terça-feira a votação da emenda. É a terceira vez que se fixa uma data. As duas anteriores (15 e 22) se revelaram inviáveis. E não há segurança alguma de que a votação de fato ocorrerá no dia 28.
A cada adiamento, a cada frustração de expectativas, cresce tanto o desgaste do governo federal como a ansiedade geral -se não na opinião pública, obrigada a acompanhar o "affaire" à distância, pelo menos entre os agentes econômicos.
Talvez por isso lideranças governistas dizem que, caso seja novamente impossível votar a emenda na próxima terça-feira, o governo deixará de insistir e proporá a realização de um plebiscito para que o eleitorado dê o seu veredicto, a ser referendado pelo Congresso Nacional. Trata-se da tese defendida por esta Folha em editorial publicado há exatamente um mês. Infelizmente, a alternativa teve de esperar por todo esse tempo para que passasse a ser considerada pelo governo e pelo Congresso.
Os episódios posteriores só fizeram reforçar os argumentos do editorial. Está cada vez mais evidente que o debate sobre a reeleição não se dá em termos de suas qualidades ou defeitos, mas em torno dos interesses dos atores do jogo político.
O Congresso -principalmente as bases governistas- poderia ter evitado esse desgaste se a consulta tivesse sido definida antes de a discussão se tornar um simples jogo de reivindicações pessoais e partidárias. Alguns interesses podem ser até legítimos, mas avoluma-se a sensação de que a negociação transita também por escaninhos obscuros, o que tende a manchar a tese da reeleição, que esta Folha igualmente defende.
Se houver possibilidade de uma decisão, seja qual for, no dia 28, é melhor que seja tomada para não prolongar uma agonia injustificada. Mas a cada dia comprova-se a necessidade de uma consulta popular para transformar um obscuro e desvirtuado processo em um momento de exercício amplo da democracia.

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