São Paulo, quinta-feira, 23 de janeiro de 1997
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Com detalhes, Pádua fala por mais de 5 h

DA SUCURSAL DO RIO; DOS ENVIADOS ESPECIAIS AO RIO

Em depoimento de mais de cinco horas, o ator Guilherme de Pádua acusou sua ex-mulher, Paula Thomaz, de ter matado a atriz Daniella Perez, em 28 de dezembro de 1992.
Pádua recontou -em detalhes- a sua versão do crime. Ele reafirmou que manteve um romance com Daniella e que Paula tinha ciúmes da atriz.
Segundo Pádua, sua ex-mulher e a atriz discutiram, houve um princípio de briga e, na tentativa de apartar as duas, ele deu "uma gravata" forte em Daniella, provocando um desmaio e caindo sobre ela.
O ator teria achado que Daniella estava morta e, com medo de ser visto por alguém, decidido adulterar a placa do carro. Nesse momento, segundo Pádua, Paula golpeou Daniella com uma tesoura.
Pádua disse que, além da tesoura, encontrou uma chave de fenda perto do corpo de Daniella, mas não esclareceu se Paula a usou.
Vestindo calça jeans, camiseta branca e tênis, Guilherme de Pádua falou alto e em tom firme durante todo o tempo. Ele respondeu várias vezes ao juiz, que insistia para que o ator fosse mais objetivo.
Constantemente, Pádua fazia digressões sobre o seu relacionamento com Paula e Daniella. Ele disse que a ex-mulher era "manhosa" e "ciumenta". Usou muitos diminutivos.
"Quando eu cheguei ao carro, ela já estava fechando os olhinhos. Eu disse: 'Amor, vai para casa"', afirmou sobre o momento em que Paula estaria escondida no carro.
O ator disse que Daniella vivia mal com o marido, Raul Gazolla, que teria inclusive dado um soco na mulher. Ele disse que seu relacionamento com Daniella era baseado em "atração física e interesse". "Como filha da autora da novela, ela podia me ajudar", disse.
Ele disse que, um mês antes do crime, havia parado de "ficar" com Daniella. No dia do assassinato, afirmou ter visto que havia dois capítulos da novela "De Corpo e Alma" sem a participação de seu personagem, o Bira. Pádua disse ter atribuído isso à falta de incentivo de Daniella em relação à mãe, já que havia rompido o relacionamento. Afirmou que, naquele dia, pediu ajuda à atriz.
Para descrever o momento do crime, Pádua pediu licença ao juiz, levantou-se e mostrou como deu a "gravata" em Daniella. "A Paula partiu para cima dela com tapas e bofetões. Nessa fração de segundo, eu segurei a Daniella pelo pescoço, com o braço direito."
Falou então sobre tudo que passou pela sua cabeça naqueles momentos. O ator explicou, por exemplo, que abaixou os braços de Daniella, depois do assassinato, "porque pensou nas fotos que os jornais publicariam".
O público praticamente não se manifestou. Houve risos apenas quando Pádua descreveu o almoço que teve com Paula no dia do crime: "Pedimos McChicken, ou alguma coisa de frango, que vem com aqueles molhinhos. Um colocava a comida na boca do outro. Aquela coisa de casal..."
O juiz pediu à assistência que não se manifestasse. O calor intenso e a morosidade do depoimento ajudaram a manter o silêncio. Os jurados improvisaram leques e o juiz José Geraldo Antônio limpava o suor a toda hora. Durante a fala, Glória Perez disse: "Ele é louco".

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