São Paulo, quinta-feira, 23 de janeiro de 1997
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Suposta 'Evita' é nora de Rui Barbosa

CELSO FIORAVANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O suposto retrato de Evita Perón, atribuído ao pintor modernista brasileiro Cândido Portinari (1903-1962), não é um retrato da ex-primeira-dama argentina, como foi aventado recentemente por Gary Libby, diretor do Museu de Artes e Ciências de Daytona Beach, na Flórida, proprietário da tela.
"Trata-se do 'Retrato de Cecilia Barbosa'. Entramos em contato com a Sotheby's em Nova York e conseguimos uma cópia da página do catálogo de maio de 1987 que traz o trabalho. Além da fotografia do trabalho, a página traz a informação de que se trata da 'nora do fundador da República do Brasil' ", disse à Folha João Cândido Portinari, filho do pintor, que há 18 anos dirige o Projeto Portinari, entidade que organiza e documenta toda a produção do pintor.
"O nome 'Barbosa' e a citação da palavra 'República' nos remeteram imediatamente a Rui Barbosa. Ligamos então para a Casa Rui Barbosa e descobrimos que Cecilia Barbosa era americana e havia realmente se casado com o diplomata João Rui Barbosa, filho de Rui Barbosa", disse João Cândido.
Segundo o filho do pintor, com essas informações foi fácil localizar na entidade documentação sobre a obra. O Projeto conserva a "ficha de leilão" do "Retrato de Cecília Barbosa", que documenta a data de confecção da obra -1940- e sua ida a leilão em 1987, mas sem conseguir comprador. Trata-se portanto de um Portinari, mas não de uma Evita.
"A tela foi a leilão em 1987 com o nome de 'Cecilia Barbosa', mas não conseguiu comprador e voltou para Bouchelle", disse João Cândido, referindo-se ao colecionador Anderson Bouchelle, que doou o quadro ao museu da Flórida em 1991.
"Bouchelle sabia que não era Evita. A dúvida agora é saber com que nome Bouchelle doou a tela ao museu", complementou.
Em sua edição de 11 de janeiro, a Folha já havia levantado algumas contradições do caso Evita-Portinari, como o fato de Evita ainda ser morena em 1940, data da confecção da tela, e não loira, como a retratada.
Também questionava o fato de o Projeto Portinari não possuir em seus 30 mil textos e documentos qualquer menção a uma possível relação do pintor com pessoas do círculo de Perón.
Embora não tenha questionado a autoria da tela, João Cândido também duvidava de sua identificação."É difícil que ele tenha realizado algum retrato do círculo de Perón. Portinari era um militante comunista e e as pessoas com quem ele se dava na Argentina e no Uruguai eram todas de esquerda", disse na ocasião.
O Projeto Portinari é responsável pela edição do catálogo "raisonnée" do pintor. O catálogo terá oito volumes e será lançado em 2 de outubro, junto com a abertura da retrospectiva do artista no Masp.

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