São Paulo, quinta-feira, 23 de janeiro de 1997
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Bomba explode perto de clínica de aborto

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Uma pequena bomba explodiu ontem de manhã em Washington perto de uma clínica de abortos e do hotel onde o vice-presidente Al Gore e a primeira-dama Hillary Clinton participariam de almoço em comemoração do 24º aniversário da legalização do aborto nos EUA. O FBI (polícia federal) disse que o incidente não foi um atentado e que o artefato era um pouco mais forte do que um rojão.
Segundo a versão oficial, um empregado do hotel Mayflower, um dos mais luxuosos da cidade, se dirigia para o ponto de ônibus por volta de 7h (10h em Brasília) após ter trabalhado durante a noite, quando viu o artefato, parte de uma granada de mão, numa cesta de lixo. O objeto explodiu e provocou ferimentos nas mãos do homem, que correu de volta ao hotel, para ser medicado. Ele sofreu escoriações e surdez temporária.
As primeiras versões do episódio descreviam o homem que correu para o hotel, não identificado, como o autor de um atentado. Mas a polícia afirma que ele é a vítima e coopera com a investigação.
Gore, sua mulher, Tipper, e Hillary participaram do almoço. Em seu discurso, o vice ameaçou as pessoas que têm feito atentados contra clínicas de aborto, prometendo punição severa para elas. Nas duas últimas semanas, duas bombas explodiram no Estado da Geórgia, sul do país, e uma em Oklahoma, oeste.
Dezenas de milhares de pessoas participaram de passeata contra o aborto em Washington enquanto Gore discursava. Um dos oradores durante a manifestação, o líder da oposição no Senado, Trent Lott, disse que o Congresso, sob controle de seu partido, vai aprovar nova lei contra um tipo específico de aborto, conhecido como "aborto de nascimento parcial", como a que Clinton vetou no ano passado e que, desta vez, o Legislativo derrubará um eventual novo veto.
Esse tipo de aborto, extremamente raro, ocorre quando o feto já está desenvolvido e consiste na aspiração de seu cérebro. Clinton diz ter vetado a lei porque ela não abria exceção para que a prática fosse realizada em caso de risco de vida para a mãe. O veto foi utilizado como arma de ataque pelo adversário de Clinton, Bob Dole, na campanha presidencial de 1996.
A questão do aborto parece ter ajudado Clinton a se eleger. A maioria absoluta das mulheres é a favor do direito ao aborto, e o presidente foi escolhido maciçamente por elas. Entre os homens, as opiniões estão divididas quase ao meio, segundo as pesquisas de opinião pública a respeito do assunto.

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