São Paulo, sexta-feira, 24 de janeiro de 1997 |
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A GUERRA DO ABORTO O debate sobre a questão do aborto nos EUA já ultrapassou o caráter propriamente civilizado. Bombas e assassinatos mostram, literalmente, o potencial explosivo da discussão. Até mesmo o Brasil foi incluído como munição (pró-aborto) pela primeira-dama norte-americana, Hillary Clinton. Ela afirmou que não deseja ver seu país transformado numa espécie de Brasil. Disse que, quando de sua visita a uma maternidade em Salvador, em 1995, metade das internas lá estavam em consequência de abortos clandestinos. Apesar de a Justiça norte-americana já ter afirmado claramente o direito ao aborto, os fatos lá verificados demonstram que a irracionalidade e os atos extremos não são exclusividade do Oriente Médio ou de outras áreas conflagradas do planeta. Paradoxo dos paradoxos, os militantes antiaborto, em nome de um ideal de respeito absoluto à vida, não hesitam nem mesmo em ceifá-las para satisfazer suas crenças, contrariando princípios elementares da lógica. No Brasil, em que pese o fato -salutar- de a discussão sobre o direito ou não à interrupção da gravidez não ter assumido os ares de uma batalha campal, também a irracionalidade opera, no campo da omissão. Ninguém em sã consciência defende essa prática como método contraceptivo, mas o não-reconhecimento pleno de que a realização de abortos clandestinos constitui um seriíssimo problema de saúde pública é um verdadeiro crime contra a população feminina, que, não raro, acaba, quando não morta, gravemente mutilada. Como o próprio Brasil reconheceu em protocolos internacionais que assinou, o controle da natalidade deve ser feito, principalmente, por meio da educação. No caso do país, devem-se acrescentar o acesso a métodos contraceptivos seguros (principalmente a camisinha, levando em conta a existência da Aids) e uma discussão serena sobre a conveniência de modificações na legislação. Clinton dá exemplo de sensibilidade ao insinuar que o problema do aborto é uma questão de saúde pública, não de bombas ou assassinatos. Texto Anterior: A OUSADIA DOS MEIOS Próximo Texto: Quatro ases mais dois Índice |
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