São Paulo, sábado, 25 de janeiro de 1997
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Legista se contradiz em depoimento

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

O legista Abrão Lincoln de Oliveira, que periciou o corpo de Daniella Perez, caiu em contradição ao tentar precisar quanto tempo antes de morrer ela teria machucado o olho esquerdo.
Atual diretor do IML (Instituto Médico Legal) do Rio, Oliveira foi a testemunha de defesa ouvida ontem no terceiro dia do julgamento.
No laudo cadavérico, o legista afirma que Daniella apresentava uma mancha "amarelo-violácea" sob o olho esquerdo.
O advogado de defesa, Paulo Ramalho, perguntou à testemunha quanto tempo antes de morrer Daniella machucara o rosto. Oliveira respondeu de um a dois dias.
A resposta foi comemorada por Ramalho. Ele avisou na hora ao júri e ao juiz José Geraldo Antônio sobre documento, anexado ao processo em 1993, em que o mesmo Oliveira diz que a mancha arroxeada fora feita em Daniella 12 a 17 dias antes do crime. Para ele, a resposta da testemunha indica tentativa de favorecer a acusação.
A tese da acusação se baseia no depoimento de frentistas que dizem ter visto Pádua dar um soco no rosto de Daniella. O soco teria provocado a mancha, dizem os promotores. Com o soco, Daniella teria desmaiado.
A contradição do legista complicou a acusação. O outro machucado no rosto de Daniella é uma "escoriação superficial", segundo o laudo. Ramalho pediu a Oliveira a definição de escoriação superficial. A testemunha respondeu que é a escoriação que evolui sem deixar cicatriz. O advogado exultou.
"A tese da acusação está desmoralizada. Não houve soco na hora do crime nem a escoriação seria capaz de fazer alguém desmaiar. Tudo conforme o Guilherme diz: não houve soco nenhum. Esta história do soco é inventada", disse.
Para o advogado, o fato de o soco não ter sido dado no dia do crime reforça o depoimento de Pádua. Segundo o acusado, Daniella lhe havia dito dias antes de morrer que o marido Raul Gazolla a havia agredido com um soco.
As perguntas de Ramalho ao legista incomodaram o juiz, que acusou o advogado de agir de "forma que não é conveniente à boa justiça". A discussão evoluiu e, demonstrando irritação, o juiz mandou desligar o "telefone" de Ramalho. Queria dizer microfone.
A platéia reagiu com aplausos à decisão. O juiz tocou a campainha, ordenando silêncio. Ramalho pediu a suspensão da sessão "por não ter condições de continuar com esse clima hostil do plenário". O juiz atendeu. Eram 12h06.
O assistente de acusação, Arthur Lavigne, reclamou da atitude de Ramalho. Segundo Lavigne, a defesa impediu que o legista esclarecesse os fatos sobre o estado do corpo de Daniella.
"O depoimento do Abrão Lincoln foi prejudicado porque não terminou", afirmou Lavigne.
O julgamento foi retomado às 13h10. O legista respondeu duas perguntas dos jurados e foi dispensado. A seguir, Ramalho e promotoria entraram em acordo e o juiz dispensou os depoimentos das quatro testemunhas que faltavam. A sessão foi interrompida, recomeçando às 16h.

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