São Paulo, sábado, 25 de janeiro de 1997
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O futebol brasileiro na era da globalização - fim

MATINAS SUZUKI JR.

MATINAS SUZUKI
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, resta ainda escrever sobre o papel de dois setores na modernização necessária do futebol brasileiro.
Ao torcedor, cabe um papel fundamental (embora, nesse plebiscito, ele já tenha votado não: a maioria silenciosa não vai mais aos campos. Se o mandato dos dirigentes fosse determinado pelo número de ingressos vendidos, eles não teriam direito à reeleição).
A grande dificuldade no caso do torcedor é a dispersão e a fragmentação de interesses. No fundo, o que interessa é se o time pelo qual ele torce está jogando bem ou jogando mal.
Se ele estiver ganhando, os males administrativos serão esquecidos (as vitórias trazem uma sensação íntima de poder que exclui qualquer partilha de interesses com o Outro).
Além disso, o torcedor sabe que a sua derrota de hoje é a vitória do vizinho e, portanto, seu sentimento é imediatista: quero vencer agora mesmo.
Dispersão e imediatismo devem ser encarados como vocação comum de qualquer torcida do mundo, mas, na atual conjuntura do futebol brasileiro, é de se esperar uma atitude um pouco mais sensata, se não da massa dos torcedores, pelo menos daqueles mais informados e mais influentes.
Está da hora de se formar nesse país o torcedor-cidadão. Aquele que é reivindicativo dos seus direitos. Aquele que passa a exercer os seus direitos de consumidor quando se sente lesado por algum time, federação ou promotor de torneios.
Está na hora de se trabalhar para formar um consenso supraclubístico que lidere movimentos articulados para pressionar Estado (que inclui os três poderes), federações e clubes para adotarem as medidas modernizadores -que, em última instância, só beneficiarão os próprios torcedores.
Está na hora de o torcedor-cidadão exigir o seu direito a ter uma das principais manifestações da identidade brasileira bem servida, bem organizada e condizente com um avanço histórico do país.
As associações de defesa dos consumidores, que são, na verdade, organismo de controle de qualidade que a sociedade criou para se defender, podem fornecer boas indicações de como proceder nessa direção.
A modernização do futebol também é responsabilidade do consumidor dessa modalidade esportiva. Este é o momento para procurar um consenso e para transformar o bonito gesto de torcer por um clube em mais um movimento modernizador da sociedade civil.
(As torcidas organizadas devem continuar proibidas, pois a violência é inaceitável).
Aos jogadores, além da luta pela autonomia profissional, cabe a consciência de lutar pela qualidade de trabalho.
Com os baixos salários, eles preferem jogar mais para ganhar mais, esquecendo-se de que o seu equipamento de trabalho é altamente perecível (o excesso de jogos não só torna a sua mercadoria, o próprio corpo, menos durável, como a expõe a uma quantidade maior de contusões).
Cabe aos jogadores empenharem-se na diminuição do calendário até pela multa pecuniária: o time que exceder o número adequado de partidas por temporada (em torno de 60) pagará salário extra por por cada partida adicional.

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