São Paulo, sábado, 25 de janeiro de 1997
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Vacuidade de texto marca "No Olho da Rua"

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

"Pamonhas, pamonhas, pamonhas..." As "pamonhas de Piracicaba", em si mesmas uma piada gasta, deveriam ser esquecidas de vez pelo teatro. Mas volta e meia reaparecem no palco, constrangedoramente. Estão agora em "No Olho da Rua" e representam bem o limite ou mesmo o esgotamento de espetáculos de "criação coletiva", com "cenas do cotidiano".
(Um limite de que não escapa nem sequer "The Seven Streams of the River Ota", peça marcante do diretor canadense Robert Lepage e uma dúzia de atores, recém-editada em livro, o que é inédito -e estranho. Apesar das oito horas de duração, é também impalpável, fugidia, até superficial.)
Em "No Olho da Rua", Luiz Cabral e Ricardo Soares não respondem pela autoria, mas pela "dramaturgia" do espetáculo. A autoria é geral, da Companhia de Teatro em Quadrinhos. (Como se não fosse sempre um pressuposto do teatro.)
O resultado, como em peças como "Melodrama" e "Nocaute", é de uma intolerável superficialidade -realizada com talento. Mas o talento da direção e do elenco não esconde a (e é prejudicado pela) vacuidade de origem, no texto.
O espetáculo, com cenas por vezes pueris, está a dizer que qualquer bobagem cotidiana pode ser arte no palco. É fato, mas tem que se tornar arte na sua execução, o que não se limita à mise-en-scène.
Daí "pamonhas, pamonhas, pamonhas", que já nem é engraçado, mas constrangedor. Como "Nocaute" antes, a peça deixa a pergunta: "por que estão fazendo?"
São todos esquetes, cenas curtas. "Cenas do cotidiano", com "tipos comuns", na expressão de Luiz Cabral e Ricardo Soares no programa da peça, despreocupados de criarem personagens, satisfeitos com "tipos".
Também no programa, Beth Lopes explica a intenção de "rechear o trivial com elegância estética e significativa".
A diretora descreve sua peça com a elegância que apresenta nas montagens, mas em "No Olho da Rua" é difícil encontrar maior significância no "trivial".
Não que as cenas não "funcionem". Têm grande apuro gestual, característico de Beth desde a excessiva "O Cobrador", passando pela belíssima "Violeta Vita".
Têm alguns achados cênicos, adaptações, na verdade, como o dos bastões no esquete do ônibus, com um impagável Luiz Carlos Rossi como um "tarado" urbano.
Na interpretação, está particularmente bem a atriz Bel Kowarick, no momento de melhor resultado cômico da encenação, como uma esposa histérica que vai à forra contra uma caixa de pizza.

Peça: No Olho da Rua Direção: Beth Lopes
Onde: Centro Cultural São Paulo (r. Vergueiro, 1.000, tel. 278-9787)
Quando: quinta a sábado, às 21h30, e domingo, às 19h30
Quanto: R$ 8

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