São Paulo, sábado, 25 de janeiro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Estilista se inspira em Bispo do Rosário

CARLOS HENRIQUE SANTIAGO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

O estilista mineiro Ronaldo Fraga, 29, vai mostrar no Phytoervas Fashion Awards, que acontece em São Paulo de 18 a 20 de fevereiro, que a loucura também pode ser "fashion".
Para criar sua coleção de inverno, "Em Nome do Bispo", ele diz que se inspirou em loucos de Minas Gerais, como dona Olímpia de Ouro Preto, que virou personagem folclórico da cidade histórica, mas principalmente o artista plástico Artur Bispo do Rosário.
Fraga afirma que, como Bispo, ninguém quer chegar ao fim da vida sem nada para mostrar, além da calça jeans básica, camiseta e tênis.
Bispo sofria de esquizofrenia paranóide e acreditava que tinha a missão de reproduzir o mundo em seu quarto de hospício para exibi-lo a Deus no Juízo Final.
"Não vou pegar a obra do Bispo e colocar no desfile. Não tenho o direito. Quero olhar as coisas e pensar o que o Bispo faria", diz.
Pensando no que Bispo faria se tivesse acesso a outros materiais além do lixo que lhe davam no manicômio, Fraga incluiu em suas roupas objetos "insuspeitos" do cotidiano, como estojos de agulhas que são vendidos nos faróis.
Terceira vez
Nas duas edições anteriores do Phytoervas, seus desfiles contaram a história de uma galinha que chega à cidade grande (inverno de 1996) e a de gerações de sua família (verão de 1996).
"Quando eu estava desenhando a última coleção, 'Álbum de Família', deparei-me com a loucura e vi que precisava dedicar um capítulo especial a isso", diz.
Esta é a terceira vez consecutiva e também a última vez que Fraga participa do evento, que permite a presença de um mesmo estilista em no máximo três edições.
Neste ano, porém, Fraga se apresenta junto com a confecção Olium, de Belo Horizonte, que é mais conhecida pelos seus jeans.
As cores usadas vão desde as encardidos às luminosas, em tons de marrom, cinza, roxo, musgo, rosa e branco.
A esquizofrenia (fragmentação do ego) está presente no cruzamento de referências tanto da aristocracia quanto dos bufões medievais e no uso de materiais nobres e pobres.
A paranóia (mania de perseguição) aparece em alguns acessórios, como a bolsa de TV, onde se lê a inscrição: "Eu não matei Salomão Ayala".
"Estamos entrando numa era em que se perdeu o medo de misturar (referências). Pode ser a renovação da mesma ditadura da moda, mas você tem de mostrar quem é você", diz Fraga.

Texto Anterior: Margareth canta no aniversário de SP
Próximo Texto: Saiba quem foi o artista
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.