São Paulo, sábado, 25 de janeiro de 1997
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Radicais argelinos intensificam terror

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Militantes islâmicos da Argélia mantiveram sua promessa de intensificar a violência no ramadã (mês sagrado muçulmano) e mataram 43 pessoas entre quarta e quinta-feira, a maioria degoladas.
A onda de violência fez o presidente do país, Liamine Zéroual, ir à televisão dizer que a Argélia está sendo alvo de um complô "que visa semear o medo e o terror entre os cidadãos", realizado com ajuda de "forças estrangeiras".
Todo o conflito na Argélia gira em torno da importância que os grupos dão à religião. Em 1992, Zéroual anulou eleições vencidas pelos fundamentalistas islâmicos, dando início à violência.
Em seu discurso de ontem, o presidente não citou quais as "forças estrangeiras" que estariam agindo neste momento, mas seu governo frequentemente faz acusações contra o Sudão e o Irã.
O episódio mais violento dos últimos dias foi anunciado em Argel e teria acontecido em Benhamdane, povoado a 24 km de Argel, a capital do país. Lá, 22 pessoas teriam sido degoladas -o método que tem sido mais empregado (leia texto abaixo).
Em Baraki, um subúrbio da capital, cinco membros da família de um policial também foram degolados. O vice-prefeito de Badjarrah, outro subúrbio, foi morto a tiros.
Em uma chácara de Bana Ali (ao sul de Argel), foram degoladas 15 pessoas, inclusive mulheres.
Nenhum dos episódios foi imediatamente reivindicado por nenhum dos grupos radicais islâmicos que atuam no país -o principal é o GIA (Grupos Islâmicos Armados)-, mas o governo os atribuiu a eles. Devido ao histórico de violência dos últimos anos, há poucas dúvidas sobre a autoria.
Desde o início do ramadã, no dia 10, mais de 210 pessoas já foram mortas. Durante o ramadã, nono mês do calendário muçulmano, a lei islâmica prevê o jejum entre o nascer e o pôr do sol.
Para prevenir novos ataques, jovens de Argel fizeram barricadas e passaram a pedir documentos dos transeuntes.
Eleições
Até o pronunciamento de Zéroual ontem, o governo vinha sendo criticado por manter silêncio em relação à onda de violência. A imprensa, controlada pelo Estado, trazia poucas referências às chacinas, e funcionários do governo não faziam nenhum comentário.
Após o anúncio de que faria um pronunciamento, surgiram rumores de que o presidente convocaria eleições legislativas para a primavera (ainda neste semestre).

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