São Paulo, sábado, 25 de janeiro de 1997
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Emissora é condenada a pagar US$ 5,5 mi

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Um júri federal condenou a rede de TV ABC, dos EUA, a pagar US$ 5,5 milhões à rede de supermercados Food Lion devido a uma reportagem em que foram usadas câmeras escondidas.
A decisão pode ter grandes implicações para o jornalismo norte-americano porque a Food Lion não alegou calúnia ou difamação nem contestou a veracidade das informações divulgadas pelo programa "Prime Time Live".
O que estava em julgamento eram os métodos utilizados pela reportagem. Os jornalistas obtiveram empregos na Food Lion e usaram minicâmeras escondidas em suas roupas para documentar suposta falta de higiene na preparação de alimentos na cozinha de uma das lojas da rede.
O diretor de jornalismo da ABC, Roone Arledge, defende o uso de câmeras escondidas: "Só usamos esse método quando é um assunto de interesse público e não há outro meio de se obter a informação. Essas pessoas estavam fazendo coisas terríveis para a saúde pública". O programa foi ao ar em 1992.
A Food Lion disse ter sido vítima de fraude e de invasão de propriedade e o júri federal que julgou o caso lhe deu razão. O advogado da empresa, Richard Wyatt, elogiou a decisão, mas procurou subestimar seu impacto. "Não acho que a liberdade de imprensa esteja em risco por causa dela."
Tom Smith, presidente da Food Lion, que tem 1.110 lojas nos EUA, disse que processou a ABC não para obter dinheiro, mas "para mostrar o que é certo e o que é errado fazer em termos de jornalismo".
Um dos jurados, Gregory Mack, afirmou que ele e seus colegas resolveram punir a ABC para mandar uma mensagem a todos os meios de comunicação. "A imprensa tem o direito de buscar notícias, mas ela tem de ser cuidadosa com o que faz. É como um jogo de futebol: há limites e você tem de ter certeza que está jogando dentro desses limites ou ser punido."
Arledge disse que a emissora ABC, líder de audiência em telejornalismo no país, ainda não resolveu se vai recorrer da decisão, e admitiu que por causa dela o seu departamento vai ser mais cauteloso quando decidir usar câmeras escondidas de novo.
A Justiça norte-americana se baseia em jurisprudência e a decisão do caso Lion Food pode gerar outras similares.

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