São Paulo, sábado, 25 de janeiro de 1997
Próximo Texto | Índice

ENGENHARIA FINANCEIRA

O sistema bancário brasileiro deu um espetáculo de eficiência, criatividade e agilidade nos últimos dias. O estopim de tanta ousadia gerencial foi o início da cobrança da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira).
Os grandes bancos viram na cobrança do imposto uma oportunidade extraordinária de conquistar mercado. Rapidamente os correntistas viram-se brindados com várias alternativas para "escapar" ao tributo: em alguns casos, tem-se a impressão de que as instituições financeiras praticamente assumem o ônus fiscal em troca de manter o cliente.
Mas diz o ditado que, sendo demais o milagre, até o santo desconfia. É portanto o caso de perguntar quais os limites dessa prodigiosa engenharia financeira. Primeiro, parece evidente que, em alguns casos, ocorrerá não a absorção do imposto pelo banco, mas apenas a diluição desse custo em outros produtos oferecidos. Devem-se observar, nos próximos meses, as tarifas cobradas na emissão de extratos, na transferência de fundos e mesmo a performance dos fundos de investimento (e respectivas taxas de administração).
Nada impede que um banco "isente" o cliente da CPMF para, mantendo-o na agência, repassar o custo do imposto sob outras formas. Nada de errado ou ilegal nisso. Mas é um aspecto que no mínimo relativiza a genialidade dessa "engenharia financeira" atualmente tão alardeada.
O governo conseguiu aplicar à economia um novo tributo. É ingenuidade imaginar que se possa fazer esse adicional de "custo Brasil" simplesmente evaporar. Mesmo porque em outros casos, como nos supermercados, lideranças do setor chegaram a afirmar -e negar no dia seguinte- que iriam transferir ao consumidor o impacto do imposto adicional.
A CPMF é um erro e terá um custo. Ver-se-á em breve qual a extensão de seus malefícios. Podem até mesmo ser menores do que se imagina, mas jamais nulos, como pretende fazer crer a engenhosa publicidade.

Próximo Texto: INVESTIGAR A FUNDO
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.