São Paulo, domingo, 26 de janeiro de 1997 |
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'Novo rei da soja' explora fronteiras Maggi é o maior plantador ANDRÉ MUGGIATI
Essa foi a receita da família Maggi para se tornar a maior produtora de soja do Brasil em 96, com 40 mil hectares plantados. O avô de Blairo Maggi possuía um pequeno sítio em Torres (RS). Foi há 20 anos, em 77, que seu pai, André Maggi, começou a construir um império de soja, em São Miguel do Iguaçu, no oeste do Paraná. A região era, então, uma fronteira agrícola promissora. "Terra era barata e nós reinvestíamos o que ganhávamos em terra para plantar soja, que dava muito dinheiro." Em 79, a família Maggi partiu para outra fronteira agrícola: mudou-se para Rondonópolis (MT), onde consolidou sua produção. O engenheiro agrônomo Blairo Maggi assumiu o comando dos negócios do grupo em 82. Suas quatro irmãs são sócias minoritárias. Aumentos de produtividade foram obtidos com investimentos em pesquisa e tecnologia para combater pragas e melhorar geneticamente as plantas. Em 96. o Grupo Maggi atingiu a maior área plantada do país, com 40 mil hectares. Segundo o empresário, só 5% da área plantada é arrendada; o resto é do grupo. Em 97 o grupo pretende colher 100 mil toneladas do grão, um aumento de 8,6% sobre as 92 mil colhidas em 96, que o colocaram pela primeira vez no topo do ranking de produção, superando o empresário Olacyr de Moraes. No final dos anos 80, Maggi passou a investir em novas fronteiras agrícolas, na região de Sapezal, no norte de Mato Grosso. Mais terra deverá ser comprada em Humaitá, no sul do Amazonas. O Grupo Maggi também está entre os maiores comerciantes e exportadores de soja. Em 96, vendeu 600 mil toneladas; pretende vender 700 mil neste ano. Exportou 200 mil toneladas no ano passado e deve exportar 420 mil em 97. O aumento da exportação deverá ser viabilizado com a inauguração de um porto privado em Itaquatiara (270 km de Manaus), que deverá ser responsável por 300 mil toneladas, ou 5,4% da estimativa total de exportação do Brasil em 97 (leia texto nesta página). O Brasil é, hoje, o segundo maior produtor e exportador de soja do mundo. Perde só para os EUA. Produziu 23,5 milhões de toneladas em 96 e estima-se a colheita de 97 em 26,5 milhões. A previsão é que o país bata seu recorde de exportação este ano, com 5,5 milhões de toneladas, contra 3,6 milhões em 96. A cotação internacional do grão atingiu US$ 280 a tonelada na última semana, valor em torno do qual tem oscilado. Em entrevista à Agência Folha, Blairo Maggi fala sobre como se tornou o "novo rei da soja" e elogiou Olacyr. Também diz admirar o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e critica o Incra e a política agrícola do governo federal. Agência Folha - Desde quando sua família trabalha com a agricultura? Blairo Maggi - Acho que desde sempre. Meu bisavô, na Itália, era agricultor. Meu avô foi, meu pai é, eu sou e meu filho vai ser também, eu acho. Agência Folha - Como sua família começou a cultivar terras no Brasil? Maggi - Começou com o meu avô, em Torres (RS). Acho que eles plantavam milho para engordar porco, uma coisa assim. Agência Folha - E os negócios com soja, quando começaram? Maggi - Foi há 20 anos, em São Miguel do Iguaçu, no oeste do Paraná, com cerca de 15 hectares. Lá era tudo muito pequeno. Para a primeira plantação a gente carpiu o terreno no cabo da enxada. Agência Folha - Como se chega a ser o maior produtor nacional, com 40 mil hectares plantados, começando com 15 hectares? Maggi - O Brasil cresceu nos últimos 20 anos e ofereceu oportunidades. Você tem que estar no lugar certo na hora certa. No Paraná, naquela época, a terra era barata e nós reinvestíamos o que ganhávamos para plantar soja, que dava muito dinheiro. Depois, partimos para Mato Grosso. Fazemos a mesma coisa agora em Sapezal, no norte de Mato Grosso. Estamos sempre chegando na frente. Agência Folha - Até 95, Olacyr de Moraes era o maior produtor de soja do país. Ele tinha um estilo de vida bem diferente do seu, não? Maggi - Deve-se construir uma estátua do Olacyr de Moraes em Mato Grosso do Sul. Ele foi um grande bandeirante do Centro-Oeste. Tudo o que ele podia fazer por um Estado, por um país, ele fez. Abriu fronteiras, construiu estradas, criou cidades. Depois, porque resolveu aproveitar um pouco a vida, acabou levando a pecha de "bon vivant" (boa-vida). Agência Folha - O que você acha do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra)? Maggi - Eu acho o movimento dos trabalhadores sem terra justo. Mas o problema da terra no país surgiu devido à política agrária do governo. O próprio governo expulsou o trabalhador da terra com uma política injusta. Esse trabalhador foi para a cidade e não se adaptou. Voltou para o campo e está brigando pela terra. Agência Folha - Você é a favor da reforma agrária? Maggi - Eu acho que as terras improdutivas devem ser desapropriadas para a reforma agrária. Mas devem ser priorizadas as terras próximas aos grandes centros. Não adianta você colocar o pessoal sem terra em Apuí (maior assentamento do Incra, no sul do Amazonas). Em Apuí eles vão produzir para quem? Quando a produção chegar ao consumidor já vai estar muito cara, devido à distância. Não é viável. Além disso, o governo deve dar condições para que o assentado possa produzir. Agência Folha - Qual o papel da tecnologia na produção agrícola? Maggi - É essencial. Nós sempre investimos muito em tecnologia. Hoje nós temos a Fundação MT de Apoio à Pesquisa, mantida por produtores do Centro-Oeste. Ela faz pesquisas sobre variedades de sementes, herbicidas, variedades de algodão e também sob encomenda para os produtores. Texto Anterior: Farmácia faz análise de graça Próximo Texto: Amazonas ganha porto graneleiro Índice |
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