São Paulo, segunda-feira, 27 de janeiro de 1997 |
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No caminho certo
GILDA PORTUGAL GOUVÊA O aumento da quantidade de matriculados no ensino básico no país superou o crescimento populacional. Isso vem demonstrar que estamos no caminho certo.A discussão em torno dos números começou quando, no final dos anos 80, Sérgio Costa Ribeiro mostrou que algo estava errado nas estatísticas educacionais, pois havia menos crianças e jovens na faixa etária dos 7 aos 14 anos, segundo o Censo Populacional do IBGE, do que o número de crianças e jovens matriculados na rede escolar na mesma faixa etária. Ao aprofundar sua análise, pôde denunciar que isso acontecia pois a maioria das crianças em algum momento esteve dentro do sistema escolar, tendo sido então "contada", mas esse mesmo sistema se encarregara de "expulsá-la". Essa distorção serviu para alimentar durante muito tempo as políticas de construção escolar, sob a justificativa de que havia falta de vagas. Mas o alerta de Ribeiro serviu para denunciar a péssima qualidade do sistema, que, apesar de receber cada vez mais crianças, em vez de criar um ambiente para mantê-los na escola, os expulsava. De lá para cá, muita coisa tem sido feita para reverter esta situação. Comecemos pelo exemplo do Ceará (Folha, 16/1). O governo do Estado, por intermédio dos seus agentes de saúde, foi atrás das crianças e jovens em suas casas. Alguns nunca haviam frequentado uma escola, mas muitos haviam sido "expulsos" por elas e agora receberam um incentivo para voltar. Esse esforço já resultou num aumento de mais de 16% no número de matrículas no 1º grau. Em São Paulo, a reforma que procurou separar os alunos da 1ª à 4ª série daqueles de 5ª à 8ª também vai nessa direção, pois, ao melhorar o ambiente escolar segundo as faixas etárias, torna a escola mais atrativa. E mais ainda, o programa de recuperação escolar para aqueles alunos que anteriormente engrossavam a estatística dos repetentes e dos "evadidos". Em Minas Gerais e no Nordeste, várias experiências de "correção de fluxo", ou seja, aproximação entre a série que a criança está cursando e sua idade estão sendo um enorme sucesso. Nada mais desestimulante para uma criança de 12 anos sentar-se ao lado de uma de 7 anos; dificilmente esta criança, que vê seus colegas irem adiante e ela não, terá auto-estima para aprender e muito menos terá condições de batalhar com sucesso por um emprego ou terá disciplina para organizar sua vida. Quem já presenciou essa cena sabe que é quase impossível não se comover. Mas é da maior importância constatar que a sociedade já despertou e passou a exigir qualidade. As enormes filas nas portas das escolas não são mais causadas pela falta de vagas, como os menos atentos podem pensar, mas sim porque aquelas escolas são boas, e os pais gostariam que seus filhos estudassem ali e não na outra, alguns quarteirões adiante. Quanto mais essa qualidade for cobrada, mais perto estaremos do futuro. Texto Anterior: Estudo vê etiqueta diplomática Próximo Texto: Universidade ajuda a desenvolver Pantanal Índice |
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