São Paulo, segunda-feira, 27 de janeiro de 1997 |
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Riscos da prolixidade
HÉLIO SCHWARTSMAN
Há até jornalistas, cuja principal função deveria ser a de transmitir a informação da forma mais direta e clara possível, que padecem do mal. Houve um profissional de imprensa que, por razões até agora desconhecidas, era simplesmente incapaz de escrever algo como "um homem matou outro". De suas sinapses diante do computador sempre brotava algo como "um indivíduo do sexo masculino atentou, com sucesso, contra a vida de um seu congênere". Ninguém, contudo, consegue superar os novos latinistas. Dizer que o latim é língua morta é bobagem. É, por exemplo, o idioma oficial do Vaticano, no qual se redigem todos os documentos. Como até a Igreja Católica tem de acompanhar, às vezes, os tempos modernos, surgem dificuldades para denominar coisas ou profissões que não existiam nos tempos em que Roma era a cidade mais prodigiosa do universo. A copiosa mente dos nossos clérigos resolveu a questão de forma a deixar completamente humilhado o já referido jornalista. "Telegrama", que poderia perfeitamente existir na língua do Lácio como tantos outros empréstimos gregos, virou "nuntium per aetheris undas missum" (literalmente, "mensagem largada por ondas através do éter"). A tão econômica "letra de câmbio" transformou-se em "syngrapha collybi certo die solvenda" ("título de ágio a ser liquidado em dia previamente acertado"). Os quase sempre mesquinhos "turistas" viraram pródigos "peregrinatores delectationis causa" ("pessoas que viajam motivadas em virtude do deleite"). O que os novos latinistas perdem em economia ganham em criatividade. Em que pese todo o seu exercício intelectual, dão uma excelente lição de como não se deve escrever. Texto Anterior: Promotoria crê em pena menor para Paula Próximo Texto: Pádua recebe visita dos pais no presídio Índice |
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