São Paulo, segunda-feira, 27 de janeiro de 1997
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Julgamento de Pádua desafia poder da TV

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

A TV ficou virtualmente fora do julgamento do ator Guilherme de Pádua Thomaz, considerado culpado na manhã do último sábado pelo assassinato da atriz Daniella Perez. A ausência de câmeras no interior do tribunal do Rio de Janeiro limitou a repercussão do caso.
A comparação com a cobertura na íntegra e ao vivo do julgamento de O.J. Simpson nos Estados Unidos ilustra as diferenças entre uma sociedade bastante permeável ao olhar das câmeras, como a americana, e uma sociedade que possui nichos resistentes à televisão, como a brasileira.
É curioso que, no Brasil, o caso Perez tenha começado e terminado como um julgamento austero, enquanto nos EUA deu-se o contrário com o caso O.J. Simpson.
Sempre que um caso judicial atinge repercussão na mídia juristas brasileiros se sentem melindrados pelos excessos da cobertura. Simulações de crimes e reportagens apelativas podem contribuir para linchamentos morais antes mesmo que as investigações policiais sejam concluídas.
O poder judiciário procurou resgatar a autonomia de sua esfera de poder ao impor um certo isolamento aos trabalhos do júri. As imagens das inúmeras reportagens que foram ao ar na época do assassinato foram exibidas a portas fechadas no tribunal.
Impedidos de gravar cenas de ação durante a semana, as emissoras só exibiram fotos do recinto e das personalidades envolvidas, além de rápidas entrevistas colhidas nos intervalos.
O máximo de emoção foi obtido com a transmissão televisiva da voz do juiz, do réu e dos advogados de defesa e acusação, gravadas pela emissora de rádio CBN.
TVs estrangeiras como a CBS e a NBC transmitiram, em suas edições para a América Latina, boletins diários sobre o caso; O tom parecia aguardar algo que não veio.
Sem imagens diretas do espetáculo do julgamento, com seus rituais, togas e hierarquias, a cobertura deixou de gerar a com0ção nacional que todos esperavam. A frieza que a escassez de imagens garantiu um clima de serenidade que respeita a memória da atriz e contrasta com a repercussão provocada por seu assassinato.
Mas as emissoras não se conformaram. O SBT driblou as restrições e levou ao ar no "TJ Brasil" de sábado imagens do juiz proferindo o veredicto, gravadas com câmera escondida. A transgressão das normas do Poder Judiciário custou à Globo a detenção de um cinegrafista e um repórter e a apreensão de fita igual à veiculada pelo SBT.
O conflito entre as TVs e a Justiça envolve a opção entre o show obsessivo do caso Simpson e o teatro claustrofóbico do caso Perez.

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