São Paulo, quarta-feira, 29 de janeiro de 1997
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TATEANDO À ESQUERDA

Não chega a ser novidade que as atuais lideranças de esquerda encontram muito mais facilidade em condenar as políticas liberais do que em propor alternativas. Ao procurar preencher essa lacuna, os participantes do seminário de Tepoztlán (México), entre os quais Lula (PT), Ciro Gomes (PSDB) e outros 24 políticos e intelectuais latino-americanos, admitem, implicitamente, a posição defensiva em que se encontram os críticos do dito neoliberalismo.
O seminário organizado pelos professores Roberto Mangabeira Unger e Jorge Castañeda parece caminhar no sentido de "atualizar" o pensamento de esquerda e centro-esquerda, pois descarta o retorno ao nacional-desenvolvimentismo ou às políticas do Estado de Bem-Estar.
Mas não está claro o que seria uma "economia de mercado socialmente regulada", defendida pelo petista Tarso Genro, ou se a redistribuição de renda por meio do apoio a pequenas e médias empresas (outra proposta do encontro) seria diferente de medidas já defendidas pelos liberais.
É inegável que as políticas atualmente implementadas por vários governos da América Latina não respondem satisfatoriamente a grandes questões como o combate à miséria ou os excessivos contrastes na distribuição de renda. Há portanto um espaço real para a crítica.
No entanto, ainda que existam problemas dos quais as diretrizes liberais não dão conta, é notória a deficiência do pensamento esquerdista ou nacionalista quando se trata de formular um projeto amplo que pudesse ser proposto como alternativa.
À parte de proposições específicas, como o programa de renda mínima, ou de bandeiras já antigas, como a reforma agrária, grande parte da esquerda continua na posição dos que sabem apenas o que não querem.

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