São Paulo, quarta-feira, 29 de janeiro de 1997
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Peje-se, conde!

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - O conde não pensava em outra coisa. Queria porque queria levar para a cama a filha de seu escudeiro-mor, que acumulava essa função com a de dama de companhia da senhora condessa, a qual tinha fama de andar em más companhias. O conde não conseguia entender as razões que lhe vetavam o direito de possuir direitos sobre a dama que acompanhava a condessa, achando que, quando a condessa ia para a cama, uma boa dama de companhia devia acompanhá-la -e aí ele podia possuí-la, pois quem mandava na sua cama era ele.
Para limpar a pauta e poder pensar em outras coisas, o conde convocou o preboste, que também era mor -nem sei por que, acho que todo preboste deve ser mor-alguma-coisa.
O preboste, em sendo mor -e mesmo se não fosse-, aprovou o desejo do conde e garantiu maioria absoluta na reunião dos prebostes que deveria decidir se o conde podia ou não podia levar a dama para a cama -o que, de lambujem, era rima e solução para a crise que convulsionava o condado.
Foi assinado um protocolo dando direito a todos os cortesãos de levarem para a cama as damas de companhia. A esbórnia tornou-se geral, pois um dos áulicos tinha cinco mulheres e cada uma dessas mulheres tinha cinco damas de companhia, o que lhe dava o direito de levar para a cama, além das cinco mulheres, as vinte e cinco damas suplementares.
Altas horas, quando os gemidos de tantas damas cortavam o silêncio da noite e se misturavam aos gemidos que vinham do calabouço do castelo, eis que surgiu, vindo dos campos, a figura do Grande Arquimandrita, que penetrou nos aposentos do conde. E exclamou: "Peje-se, conde, de tão nefandos atos!"
Pejado, e de cueca, o conde perguntou ao Grande Arquimandrita quantas damas de companhia tinha a... (não sei o feminino de "arquimandrita", mas não tem importância. Importante é o vexame do conde).

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