São Paulo, quinta-feira, 30 de janeiro de 1997
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'ONU dos ricos' nasce em tempo real

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

Estourou uma grave crise financeira, tipo México, com tendência a espalhar seus efeitos pelo planeta. Sem precisar sair de seus escritórios, os ministros de Economia e os presidentes dos bancos centrais dos países do G-7, o clube dos sete países mais ricos do mundo, reúnem-se instantaneamente.
Com eles, na mesma sala virtual, estão os chefes do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do Banco Mundial. Em tempo real, decidem o que fazer.
Em paralelo, empresários com interesses no país afetado ou nos países que possam mais diretamente sofrer os efeitos da crise recebem informação atualizada, minuto a minuto, sobre como o episódio pode afetar seus negócios.
Ficção político-econômica? Não mais. Essa ONU virtual, para ricos, está nascendo na Suíça e será apresentada na edição 1997 do Fórum Econômico Mundial, a maior concentração de personalidades que o mundo põe na mesma sala anualmente (ver texto ao lado).
Atende pelo acrônimo Welcom, do inglês World Electronic Community (ou Comunidade Eletrônica Mundial).
É um sistema de comunicação, entrelaçado com o computador, que permite encontros face a face (virtuais, é claro) entre os membros do fórum, ministros e presidentes de bancos centrais dos principais países do mundo, chefes de organizações internacionais e peritos dos mais badalados centros de produção de conhecimento do planeta.
Ao contrário da Internet, cada vez mais massificada, trata-se de uma comunidade eletrônica privada, restrita a membros do fórum.
Se um deles deseja, por exemplo, investir em um dado país e tem dúvidas a respeito do futuro político-econômico, pode consultar, em tempo real, especialistas de templos mitológicos do saber, como a Escola John Kennedy de Governo (Estados Unidos), ou a Universidade de Harvard, ou a Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong.
A revolução que esse tipo de tecnologia está causando nos negócios é assim definida por Andy Grove, da Intel Corporation, um dos participantes do Fórum-97:
"Aplicações como correio eletrônico, videoconferências e outros usos da Internet permitem que uma empresa reaja em minutos ou horas, em vez de levar dias para fazê-lo."
O Brasil atrás
É uma vantagem comparativa formidável em um campo no qual o Brasil está muito, mas muito, atrás.
O fórum está lançando, neste ano, o "Mapa da Sociedade em Rede" (aliás, o tema geral das discussões de 1997). Contém o ranking mundial dos países ligados a essa teia formidável de comunicação e informação.
O Brasil é o 41º listado entre os 49 que conseguem lugar na "Sociedade em Rede". Atrás, só na América Latina, de Argentina (31º), Chile, México, Venezuela, Colômbia e Peru (36º a 40º).
O ranking considera oito itens, desde o número de linhas telefônicas por mil habitantes até o número de pessoas plugadas na Internet, também por mil habitantes.
Local do encontro
O fórum se instala hoje, como de hábito na cidadezinha de Davos (12,3 mil habitantes), encravada nos Alpes suíços e surpreendentemente com pouco frio e pouca neve, pelo menos até o anoitecer de ontem.
Mas, também como de hábito, o mundo virtual e do futuro dividirá espaço com o mundo real e os problemas do presente, tal o número de personalidades que já confirmaram presença (ver quadro).

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