São Paulo, quinta-feira, 30 de janeiro de 1997
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EM BUSCA DO BODE PERDIDO

Ganhou importância nos últimos anos o conceito de "regionalismo aberto", a busca de alianças regionais sem cair no protecionismo.
Mas as divergências dos últimos dias entre o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Luiz Felipe Lampreia, e o embaixador dos EUA no Brasil, Melvyn Levitsky, depõem contra o ideal de avançar simultaneamente nos planos regional e global.
Lampreia reclama do protecionismo norte-americano contra produtos brasileiros. O diplomata dos EUA sugere que o problema do Brasil não é o eventual protecionismo de terceiros, mas sim a falta de competitividade e a exorbitância do "custo Brasil". Ambos afinal têm alguma razão. Mas há outros aspectos em jogo.
Em primeiro lugar deve-se perceber que o Brasil ocupa hoje uma posição no comércio internacional bastante secundária. Nesse contexto, preocupa a falta de uma política comercial.
Verificou-se nos últimos anos uma expansão do comércio interno ao Mercosul. A notícia é boa, mas fica relativizada pela incapacidade de as exportações brasileiras conquistarem outros mercados. Como lembrou o deputado Delfim Netto em artigo ontem na Folha, além dos problemas de câmbio, "custo Brasil" etc., parte dessa fragilidade deve-se à falta de estratégias de promoção comercial e defesa legítima, não protecionista, dos interesses comerciais do Brasil nos mercados mundiais.
Segundo, é preciso relativizar os reclamos das autoridades brasileiras que, imputando ao comércio com os EUA um déficit de US$ 3 bilhões (50% do déficit total), explicam o fato por meio do protecionismo norte-americano. Sabe-se que a economia dos EUA, nos últimos meses, passou a crescer com mais moderação, o que naturalmente leva a uma redução das importações.
O comércio exterior brasileiro -sobretudo as exportações- enfrenta atualmente graves dificuldades. Querer encontrar um bode expiatório fora do país é a atitude mais fácil, porém é a que menos contribui para a construção de um autêntico regionalismo aberto.

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