São Paulo, quinta-feira, 30 de janeiro de 1997
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ANTONIO CALLADO

ANTONIO CALLADO
Vai-se, com o escritor

Vai-se, com o escritor Antonio Callado, um dos melhores prosadores do Brasil. Etimologicamente incorreto, Callado, de calado, tinha muito pouco. Disse muito em "Quarup" e "Reflexos do Baile", para ficar em apenas dois de seus livros.
Sua obra contudo não se limita à ficção. Sua atuação jornalística -na qual destaca-se uma ousada cobertura da Guerra no Vietnã-- conferiu-lhe prestígio e respeito entre os profissionais de imprensa brasileiros. Lutava contra o câncer havia 13 anos, mas, como se pôde depreender de sua última entrevista (publicada por esta Folha no domingo passado em função de seus 80 anos), o amargor já começara a lhe invadir a alma.
Intelectual engajado, preocupado com as causas da justiça social, fez parte de uma geração que idealizou um Brasil mais igualitário e menos sensível aos apelos do capitalismo internacional. Natural que estivesse decepcionado com alguns aspectos do país neste tempo de globalização e fracasso do socialismo.
Apelidado pelo dramaturgo Nelson Rodrigues de "único inglês da vida real", Callado, um verdadeiro "gentleman", marcou muitas gerações de intelectuais, escritores e jornalistas.
Foi-se um acadêmico que realmente fazia jus ao título. Sua obra, de inegável valor, já tem lugar assegurado na história literária brasileira. O autor de "Quarup" e o jornalista ético e corajoso de tantas reportagens e artigos permanecerá, igualmente, como um exemplo de honestidade, lucidez e preocupação com o seu país.

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