São Paulo, sexta-feira, 31 de janeiro de 1997
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Beron é apontado como elo de corretoras

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Todas as corretoras e distribuidoras envolvidas nas operações com títulos públicos que estão sendo investigadas pelo Banco Central possuem contas bancárias na agência paulistana do Beron (banco estadual de Rondônia, sob intervenção do BC desde o primeiro semestre de 1995).
A informação consta do relatório do Banco Central C obtido pela Folha e já enviado à Comissão Parlamentar de Inquérito do Senado que investiga a emissão de títulos públicos entre os anos de 1995 e 1996.
"A análise do fluxo financeiro e operacional dessas distribuidoras indicava a possibilidade de existência de esquema destinado a amparar recursos ilícitos cursados no sistema financeiro e de capitais", diz o relatório.
"Recursos ilícitos"
O documento relata que a fiscalização do Banco Central suspeitou do envolvimento da agência paulistana do Beron com as corretoras e encaminhou uma denúncia ao conselho diretor do banco de Rondônia.
A direção do Beron realizou uma auditoria na agência para "coibir a prática de facilitar o trânsito de recursos ilícitos naquele estabelecimento bancário".
As corretoras que estão sendo investigadas pelo BC, conforme o relatório, negociaram títulos públicos da Prefeitura de São Paulo e dos Estados do Rio de Janeiro, Alagoas, Paraíba, Sergipe, Mato Grosso e Goiás.
Esses títulos não se restringem apenas às operações destinadas ao pagamento de sentenças judiciais (precatórios), alvo preferencial da CPI do Senado.
"Laranjas"
A CPI já requisitou do BC toda a investigação feita em torno do Beron. A comissão suspeita que a agência paulistana desse banco tenha facilitado a remessa para o exterior de lucros obtidos com operações irregulares envolvendo títulos públicos.
Duas dessas operações somam R$ 4,856 milhões e favoreceram o Banco del Paraná (R$ 972 mil) e o Corfan Banco S/A Inversion Y Fomento (R$ 3,884 milhões), ambos com sede no Paraguai.
Os títulos emitidos por Estados e municípios são oferecidos às corretoras com um desconto (ou deságio) elevado. Em seguida, eles são revendidos com um deságio menor.
Lucro vira prejuízo
O lucro obtido nessas operações é transformado em prejuízo, por meio de contratos de compra e venda de dólar no mercado futuro de câmbio.
Esses contratos são feitos com "laranjas" -empresas criadas para atuar em nome de terceiros e driblar a fiscalização- e prevêem uma multa no caso de rescisão.
A multa é calculada de acordo com a diferença entre a cotação futura do dólar prevista no contrato e a cotação verificada no dia da rescisão.
Geralmente, o valor da multa é próximo ao lucro obtido pelas corretoras na operação realizada inicialmente.
Talão de cheques
Como a corretora sempre anula o contrato, ela transfere seu lucro ao "laranja", como se estivesse pagando uma multa.
Em seguida, o "laranja" entrega para a corretora um talão de cheques assinado em branco.
Dessa forma, a corretora beneficiada pelo esquema consegue sacar seu lucro, que oficialmente desapareceu com a rescisão do contrato de câmbio.
O "laranja", por sua vez, recebe uma comissão sobre o total de recursos movimentado em sua conta corrente.

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