São Paulo, sexta-feira, 31 de janeiro de 1997
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Petróleo subirá a US$ 30 e afetará balança

CLÓVIS ROSSI

O preço do barril do petróleo deve chegar a US$ 30 antes do final do ano, prevê Kenneth Courtis, um dos vice-presidentes do Deutsche Bank e especialista no mercado de capitais.
É uma péssima notícia para a política econômica brasileira, cujo maior problema, no momento, está na balança comercial.
O Brasil importou, entre janeiro e novembro de 96, US$ 3,055 bilhões de petróleo.
Hoje, o barril custa US$ 23. Subindo a US$ 30, o aumento será, portanto, da ordem de 30,4%. Ou seja, o tamanho do problema comercial ficará 30% maior.
Courtis fez a previsão em debate sobre o panorama econômico 1997, parte da edição deste ano do Fórum Econômico Mundial.
Razão: os estoques das grandes companhias petrolíferas estão no ponto mais baixo desde 1983.
Seus cinco companheiros de mesa, todos economistas de institutos de pesquisa, não só não divergiram como até reforçaram a preocupação. "Será um grande problema para o Japão", disse, por exemplo, Haruo Shimada, professor de Economia da Universidade Keio.
O Japão depende exclusivamente de petróleo importado.
Mexida no câmbio
Outra previsão feita durante o debate incidirá indiretamente sobre o Brasil. Trata-se da "reviravolta no câmbio dentro de seis meses, no máximo um ano", antecipada por Fred Bergsten.
Bergsten, diretor do Instituto para a Economia Internacional dos EUA e um dos maiores especialistas em economia global, não está falando, é claro, do real.
Sua previsão refere-se ao dólar e sua relação com o iene japonês e o marco alemão.
Bergsten acha "peculiar" que o dólar esteja subindo em comparação com as duas outras moedas fortes do mundo, quando os EUA são um grande devedor e têm déficit recorde nas suas contas correntes (a que mede todas as trocas com o resto do mundo).
De fato, desde abril de 95, após uma década de quedas, o dólar começou a se recuperar e, de lá para cá, subiu 14% em relação ao marco e 40% sobre o iene.
O que tem a ver a paridade dólar/marco/iene com o Brasil? Responde relatório emitido ontem pela Oxford Analytica, respeitada consultoria britânica:
"A valorização do dólar ajudou a aumentar o valor internacional das reservas de Brasil e Argentina e a contrabalançar a tendência de suas moedas a se valorizar".
Se, como prevê Bergsten, o dólar voltar a cair contra o marco e o iene, se desfazem tais efeitos.
Essas perspectivas, em todo caso, não impediram que os debatedores traçassem um cenário otimista sobre a economia mundial.
O alemão Horst Siebert, presidente do Instituto Kiel de Economia Mundial, lembrou que, em 96, o mundo cresceu 4%, "o mais alto índice dos anos 90".
Ninguém discordou de que, neste ano, a tendência será igualmente de crescimento.
Mas o mexicano Luís Rubio, presidente do Centro de Pesquisa para o Desenvolvimento, introduziu uma pitada de ceticismo.
Disse que persistem dúvidas sobre o longo prazo em todos os países latino-americanos, entre outros motivos, porque seus governos tratam de gerenciar até a microeconomia, exceção feita apenas a Argentina e Chile.

LEIA EDITORIAL sobre o Fórum Econômico Mundial na pág. 1-2

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