São Paulo, sexta-feira, 31 de janeiro de 1997
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A compra da Mendes Júnior

LUÍS NASSIF

Ainda causam dúvidas em alguns setores a questão Açominas-Belgo Mineira-Siderúrgica Mendes Júnior (SMJ).
As interferências políticas de Itamar Franco e do governo de Minas na privatização da Açominas acabaram desvirtuando o processo.
Regionalizou-se a questão, permitindo que o controle da Açominas ficasse diluído e a gestão fosse assumida pela SMJ.
Em curto espaço de tempo, a SMJ logrou desviar da Açominas montante de produção hoje estimado em US$ 500 milhões.
Seguiu-se a destituição da SMJ do grupo da gestão da Açominas, e um processo conturbado de negociação que deixou a dívida pendente. Sua garantia são os presumíveis direitos da empreiteira Mendes Júnior sobre um processo contra as Centrais Elétricas do São Francisco -que dificilmente ganhará.
Em torno da possível venda da SMJ criou-se um enredo de novela com quatro personagens principais:
1) A Açominas conseguiu se recuperar custosamente do golpe aplicado pela SMJ. Mas ficou sem plano estratégico de mercado.
2) A SMJ inviabilizou-se, acumulando passivos gigantescos com o BNDES e com a própria Açominas.
3) A Belgo Mineira perdeu o bonde da privatização e não conseguiu ganhar escala no mercado. Acabou assumindo a gestão da SMJ por meio de um contrato que lhe permite optar por adquirir ou não a empresa.
4) O BNDES tem US$ 400 milhões (fora multas e mora) a receber da SMJ, de financiamentos concedidos há mais de dez anos.
A partir daí, foi montada a operação de venda da SMJ à Belgo -relatada pela coluna na semana passada- que livra o BNDES de seu pepino. A dívida com a SMJ será refinanciada para a Belgo, por prazos adequados.
Dúvidas Há dúvidas de duas ordens na operação -suscitadas a partir da publicação da coluna.
A primeira é quanto à preservação dos interesses do segundo grande credor da SMJ: a própria Açominas. A segunda, o da capacidade financeira da Belgo Mineira de assumir a SMJ.
Há quem defenda, no setor, que o mais correto seria a SMJ ser entregue à Açominas, em pagamento da dívida. Depois, tentar uma fusão com a Belgo, mas aí trazendo mais capitais para alavancar a operação.
Estudos da Merrill Lynch, por exemplo, consideram que a Belgo já apresenta endividamento considerável com relação à sua atual capacidade de geração de caixa.
Nas projeções de resultados futuros não se vislumbraram ganhos adicionais, provenientes da aquisição da SMJ, capazes de cobrir o custo da dívida necessária para adquirir a companhia.
Além disso, teme-se que os esforços para adquirir a SMJ possam provocar desvios de foco no programa de investimentos da Belgo -que até hoje continua utilizando carvão vegetal na sua produção.
Na análise do banco, a aquisição poderá ser benéfica para a Belgo, desde que seja feita sem comprometimento da qualidade do balanço, e sem demora.

Email: lnassif@uol.com.br

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