São Paulo, sexta-feira, 31 de janeiro de 1997
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Max diz querer a reconciliação da banda

PATRICIA DECIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Max Cavalera, vocalista e letrista da banda de thrash metal Sepultura, diz que está aberto para uma reconciliação com Igor Cavalera, Andreas Kisser e Paulo Xisto.
Ele diz ter sido "empurrado para fora" da banda, quando os três integrantes demitiram por carta a empresária Gloria Cavalera, mulher de Max, após um show em Londres, dias antes do Natal. Ela trabalhava com o Sepultura há sete anos. "Ficou difícil ir com eles e dar um chute na bunda da Gloria", disse à Folha, por telefone.
Os desentendimentos teriam começado quando a banda passava pela Argentina, em 96. "O motivo era que eu aparecia muito em revistas e que a Gloria estaria me favorecendo, o que não é verdade", disse Max, que está em sua casa em Phoenix (EUA), se recuperando de uma cirurgia no joelho.
Segundo ele, as intrigas foram inflamadas por interferência das mulheres de Andreas, Igor e Paulo. "(A separação) é uma vitória para as mulheres e uma derrota para os fãs", afirmou. Hoje, os três integrantes darão uma entrevista coletiva em São Paulo explicando o futuro da banda.
Gloria, que sofreu uma cirurgia para varizes há dois dias, teve que ser internada novamente com febre alta provocada pelo estresse, de acordo com Max. "A barra aqui está pesada." Leia a seguir os principais trechos da entrevista.
*
Folha - O que provocou a demissão de Gloria?
Max - Tem haver mais com ganância do que qualquer outra coisa. Acho que rola muita inveja, muito ciúmes, a gente é casado, então passa muito tempo junto, mas no terreno profissional eu nunca misturei as coisas.
Folha - Foi então de surpresa?
Max - O que me surpreendeu foi tudo ter chegado ao ponto de terminar a banda. Estou em estado de choque. A barra aqui está pesada. Está sendo o momento mais difícil da minha vida.
Folha - Eles nunca disseram que estavam descontentes?
Max - Não abertamente. Era coisa mínima, mas a gente sempre teve problemas na banda. Houve uma época em que o Igor não se dava bem com o Andreas, teve uma época que a gente não se dava bem com o Paulo, até pensou em tirar ele porque ele não conseguia tocar, mas nunca tiramos ninguém, sempre teve respeito. Desta vez, foi um complô de três contra um e acabaram chutando ela da banda. Foi uma facada nas costas.
Folha - Qual é afinal a situação oficial da banda?
Max - Se eles forem tentar continuar o Sepultura sem mim, espero que os fãs entendam que não é mais o Sepultura. Como não seria sem o Igor, o André ou o Paulo.
Folha - Em que momento a coisa desandou?
Max - A partir do momento que o pessoal de fora -eu não quero citar nomes, prefiro evitar baixaria- começou a se intrometer. Porque tem muita gente que quer que a banda acabe, infelizmente até mulheres deles, até a mulher do Andreas, preferem ver a banda acabada. Elas não vão em turnê, só ficam em casa e estão sempre reclamando. Vai ser uma vitória para as mulheres e uma derrota para os fãs, infelizmente.
Folha - O que pretende fazer?
Max - Agora não sei. A minha vontade era de continuar com o Sepultura. Se eles vierem conversar comigo, eu estou mais do que aberto para tentar a reconciliação. A coisa que eu mais quero nesse mundo é que a gente volte a ser a tribo que era e deixe essa molecagem de lado. Tem gente que não acredita que a banda terminou. Tenho esperança que a humildade volte dentro deles, que eles venham conversar comigo e que a gente arrume uma solução para continuar a banda.
Folha - Mas é uma condição que a Gloria continue a trabalhar?
Max - Ela adora os três, gosta muito da banda. Ela passou por uma fase muito pesada de perder um filho e, três semanas depois, estar em turnê com a gente, trabalhando. Acho que isso mostra o tanto que ela é profissional e dedicada para a banda.
Folha - Os desentendimentos começaram na Inglaterra?
Max - Desde a época da Argentina eles já estavam meio chateados. O motivo era que eu aparecia muito em revistas e que a Gloria estaria me favorecendo, o que não é verdade. Isso incomodou muito a eles, mas não é coisa que você culpa a Gloria. Se alguém tem que ser culpado, sou eu. Se é esse o problema, pronto, a gente não faz a capa da revista. Se a inveja é tão grande, se tá incomodando tanto... Mas a carta foi a gota final. Chorei, fiquei nervoso.
Folha - Aí vocês resolveram dar um tempo.
Max - É, a gente resolveu dar umas férias para todo mundo esfriar a cabeça e a minha esperança era que o pessoal me ligasse e tentasse entrar em acordo, mas, infelizmente, até agora não aconteceu.
Folha - Seu relacionamento com o Igor continua normal?
Max - Eu adoro meu irmão, meu relacionamento com ele é acima de tudo, nada entra no caminho. Nos falamos toda semana.

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